Pavimentação asfáltica e suas patologias prematuras
Fabiano da Silva Jorge
Engenheiro Civil
Especialista em gerenciamento de projetos
Mestre em Engenharia na área de Infraestrutura e Meio Ambiente
Há algum tempo temos notado que as obras de pavimentação, antes obras que embelezavam nossas cidades, parecem durar pouco ou no mínimo duram bem menos que alguns anos atrás. E no cotidiano de nossas vidas temos visto os inúmeros transtornos gerados pelas patologias incidentes nos pavimentos asfálticos, entre eles, o pedestre indignado com a água que é jorrada em dias de chuva quando um veículo passa por "buracos", ciclistas e motociclistas entortando os aros de suas bicicletas e motos, e ainda temos os motoristas de veículos de passeio e de carga, que perdem dinheiro com manutenções em seus veículos além de perderem tempo em suas atividades pessoais e profissionais, e, sem mencionar aqui os possíveis acidentes e suas possíveis perdas de vidas geradas por problemas nos pavimentos. De tudo isso, o que é fato, é que o maior prejudicado disso tudo é a sociedade como um todo, pois muito além do dinheiro público desperdiçado, o que já nos remete a uma intensa preocupação em tempos de crise, tem o fato de que, literalmente, parece estarmos regredindo na infraestrutura de nossas cidades. Sim, regredindo, pois é bem provável que aquele velho pavimento de "chão" batido ou com paralelepípedos, antes considerado precário, seja visto posteriormente com ar de saudades e de uma pergunta: O que adiantou se investir e ficar pior do que era?
Mas e o que há com os pavimentos de hoje que, em geral, não resistem ao seu tempo de vida útil de projeto? Para responder ou tentar clarearmos as idéias é importante entendermos alguns conceitos. A pavimentação se divide, basicamente, em pavimentação rígida e flexível. A rígida tem por característica a utilização do cimento Portland e temos como exemplos a pavimentação em blocos pré-moldados, a pavimentação em concreto armado ou não, e podemos considerar rígida também as ruas que tem a utilização de paralelepípedos. Já na pavimentação flexível, temos como característica principal a utilização do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), que proporciona ao pavimento a capacidade de absorver pequenas movimentações sem sofrer ruptura, e como exemplo, temos as nossas ruas e rodovias que são chamadas de asfaltadas. Devemos considerar ainda que um pavimento é constituído por uma camada granular composta de agregados (pedra britada) e o revestimento, que pode ser flexível ou rígido; e que estas camadas estão assentadas sob uma camada de terraplenagem chamada de subleito.
Outro conceito importante dentro da pavimentação é o da drenagem. A pavimentação, seja ela rígida ou flexível, precisa ser preservada das águas pluviais e de qualquer outro fluído que possa vir comprometer a estrutura do pavimento bem como o seu desempenho ao longo de sua vida útil. Nos pavimentos rígidos a presença da água compromete menos a estrutura, porém nos pavimentos flexíveis ela é um dos principais agentes no comprometimento do pavimento conduzindo-o, em alguns casos, ao colapso total.
Com isso, pode-se compreender que se o pavimento flexível trincar e não for feito a sua devida manutenção, a água irá infiltrar e a partir daí será iniciado o processo de ruína do pavimento, processo este que pode ser lento ou rápido, dependendo da severidade das trincas e da intensidade de tráfego sobre o pavimento com a patologia. O processo de ruptura total do pavimento é o mesmo entendimento da umidade em uma parede residencial, que a água vai infiltrando e com o tempo, caso não seja feita a manutenção, ela desestabiliza o reboco a ponto de ruir e cair. Assim, percebe-se a necessidade de manutenções preventivas nos pavimentos a fim de se evitar a propagação das trincas; e das manutenções corretivas nas trincas com erosões avançadas com objetivo de evitar o aparecimento das panelas (ou buracos como são conhecidos popularmente), pois estas irão promover a ruína total da estrutura do pavimento.
Por fim, ainda temos que considerar as diversas intervenções nas ruas, seja por novas ligações de água residencial, por manutenções nestas ligações, substituições de dutos de água e esgoto cloacal (onde há) entre outras interferências "enterradas" que possam existir e que ao promover tais intervenções acabam por gerar possibilidades de infiltração nos remendos executados após tais serviços.
Neste contexto, podemos concluir, ainda que preliminarmente, que nossos pavimentos, em geral, duram menos ou mais tempo em função de etapas executadas com sucesso, seja na concepção do projeto, na execução, na manutenção ou ainda nas interferências ocorridas durante o tempo de vida útil. Cabe a nós enquanto sociedade e usuários o entendimento e a reflexão, de que os "buracos" ou qualquer outra patologia é apenas o resultado de algum processo falho, entre a concepção e o fim da vida útil do pavimento, seja de quem o concebeu, projetou, executou ou ainda, de quem o mantém em condições de conforto e segurança. Há muitas pesquisas buscando melhorar potencialmente os materiais constituintes dos pavimentos, mas há muito que se fazer ainda em gestão de infraestrutura.