Uma referência para os colegas de profissão, sendo chamado carinhosamente de “Seu Ignácio” ou “Professor Ignácio” , Ignácio Petkovicz não só influenciou toda uma geração de músicos, mas também serve de exemplo de vida, através de sua superação, enfrentou as dificuldades de fazer música, mesmo sendo deficiente visual, e mesmo hoje com mais de oitenta anos continua tocando, dando aulas e aprendendo coisas novas.

Neto do imigrante polonês Paulo Petkowicz (grafia original), que teve seis filhos, Pedro e Gabriela (nascidos também na Polônia), e Félix, Júlio, Francisco e José, este seu pai. Uma família em que a música era bastante valorizada, tanto que todos cantavam e/ ou tocavam algum instrumento. Podemos citar o seu tio Felix Petkovicz, que além de tocar clarinete, violino e acordeom, foi maestro da banda da cidade de Carlos Gomes, ainda na década de 1930.

Ignácio Petkovicz nasceu em 25 de janeiro de 1931 (em seus documentos consta 1930), na localidade de Chato Gaúcho, entre dez filhos de José Petkovicz. Desde o início teve contato com a música feita em família, mas aos cinco anos de idade ganhou seu primeiro instrumento musical, uma harmônica (gaita de boca), que seria o seu início no mundo da música, mas ao mesmo tempo, o fim de sua visão. Feitas de metal, e brincando com seus primos e irmãos, ao jogarem o instrumento em uma brincadeira, um pedaço de metal solta-se atingindo os olhos de Ignácio, e devido à falta de recursos na década de 1930, aqui no interior do estado, o acidente acabou o cegando para sempre.

Em 1941, ganhou seu primeiro acordeom de oito baixos, o qual começou a aprender de forma autodidata, e no mesmo ano, foi estudar no recém-inaugurado (27 de setembro de 1941) Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre. Neste local, Ignácio teve toda a sua formação, incluindo o Braile, e música, nas áreas de teoria musical, história da música, violino, saxofone, acordeom e piano. Teve aulas de música com a Irmã Inês, uma aluna do renomado compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, além de Ignácio ter como colega desta classe o ilustre pianista/tecladista Manfredo Fest, que viria a construir sua carreira tocando jazz nos Estados Unidos.

Abandonou seus estudos em 1948, quando começou a tocar seus primeiros bailes ao ganhar seu primeiro acordeom, retornando ao Instituto em 1950, para concluir seus estudos no ano seguinte.
Após se formar, trabalhou transcrevendo livros para o Braile, e estudou em um curso de radio, mas seguiu em 1954 para Curitiba, onde trabalhou no Instituto Paranaense para Cegos, lecionando música.
Retornou a Erechim, onde ganhou a vida tocando bailes, vendendo acordeons para as empresas Todeschini e Supremo, além de criar suínos para complementar sua renda. Nesse período (1955-56) trabalhou em um programa na Rádio Erechim, juntamente com Jovino Martins e Milton José Dininelli, onde tocava ao vivo.

Vale salientar aqui, que nesse tempo, os bailes eram tocados apenas pelo acordeonista, e sem amplificação, e este era o caso de Ignácio, que em algumas poucas exceções teve como parceiro de baile, outro acordeonista Ivo Zamprogna.
Recebeu um convite em 1957 para fazer parte da Típica (grupo de tango) de Célio Barboza em Passo Fundo, que Ignácio aceitou e chegou a ir para o ensaio, mas devido a problemas de saúde, tendo que desistir.
Em 1959 comprou terras no interior do estado do Paraná, inicialmente na cidade de Coronel Vivida, localidade de Vista Alegre, onde teve oportunidade de ter programas de rádio, onde tocava ao vivo, como nas Rádios Pato Branco e Celinauta,só para citar algumas.

Em 1962, com a obrigatoriedade de fazer a carteira profissional da Ordem dos Músicos do Brasil, faz a prova com Oswaldo Engel, em Erechim, pois apesar de estar residindo no Paraná, tinha muitos negócios nesta região.
Em 1963 casou-se com Amália Edviges Andres Petkovicz, com quem teve quatro filhos homens, e adotou mais uma menina, todos nascidos no estado do Paraná. Residiu também, nas cidades de Pato Branco (onde foi proprietário de um salão de bailes), Vista Alegre, Itapejara do Oeste (onde tocou teclados e acordeom com sua primeira banda, Os Tropicais nos anos de 1974 - 75) e Francisco Beltrão. Nesta última cidade tocou em diversos grupos, como por exemplo, Pai João, de João Michoanski em 1976, Os Estancianos, ainda em 1976 e Zanatta Som, nos anos de 1977-78.

Morou um breve período no final dos anos 1970 em Porto Alegre, mas retorna à Erechim, onde, em agosto de 1980 é convidado por Ireno Wojciekowski para tocar no Grupo Musical Los Calientes, permanecendo com este grupo até o carnaval de 1995 (com exceção de breve período 1993 que ajuda a fundar o Grupo Recado) tocando teclados, acordeom e saxofone.

Com o Grupo Musical Los Calientes, toca diversos shows e bailes por todo o sul do país, e gravou quatro discos (ainda em vinil) com a banda além de outros quatro do Festival Regional da Canção Sertaneja (FESTIRECASER), em que além de tocar os referidos instrumentos, Ignácio também atuou como arranjador.

Gravou mais dois discos como músico convidado do grupo Los Calientes após a sua saída, além de um disco de seu ex-colega de banda Armando Matté. Ignácio somente gravou seu trabalho próprio em 1998 (instrumental), e o segundo em 2002 (com a participação de diversos convidados), ambos lançados pela LC Produções e Gravações. Além disso, Ignácio Petkovicz é um compositor bastante profícuo, porém tem apenas cerca de 20 composições suas gravadas. 

Paralelamente aos bailes e gravações, Ignácio deu aulas particulares desde 1986, e durante esse período, encaminhou para a profissão diversos músicos que estão em atividade atualmente, sendo possível citar Paulo César Vargas (Banda Passarela e Estúdio Mix), Rafael Vargas (Banda Passarela e Estúdio Mix), Gregori Trentin (Grupo Destino do Tchê), Alessandro Rossetto, Dirceu Alberti (Banda Passarela), Iseu Alberti (Banda Passarela), Marcelo Mattias (Los Bravos e Musical L&R) e Gleison Juliano Wojciekowski.
Atualmente, Ignácio Petkovicz com seus mais de 80 anos, continua em atividade, ministrando aulas particulares (com cerca de 20 alunos), tocando em algumas festas e cerimônias, além de estar estudando informática aplicada a música.