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neide piran

Ser patrona da Feira do Livro de Erechim: uma conquista coletiva

Por Coluna do Leitor

Por Neide L. Piran

            Jamais pensei que um dia receberia o convite para ser patrona de Feira do Livro. A surpresa foi tanta que comecei a perder o sono, pois sabia das responsabilidades advindas.         Comecei a me indagar: seria pelo exercício do Magistério por 40 anos? Pela paixão por ler e escrever que meus mestres me incutiram? Pelas causas defendidas, entre elas a justiça social e o meio ambiente?

            Mesmo não tendo a intenção de responder às indagações acima, de uma coisa tenho certeza: foi, sem dúvida alguma, uma conquista coletiva. Por que assim considero? Porque, indubitavelmente, só evoluímos pela convivência, uma condição sine qua non da raça humana.

            Por isso, devo muito a muitos. Nesse momento, só me reportarei à minha trajetória como educanda e educadora, pois foi a caminhada que teve um sentido social que considero o mais significativo, pois envolveu um relacionamento humano muito próximo com os outros, o que me permitiu que a alteridade fosse exercitada. Assim espero ter sido.

            Acompanhando a oportunidade de relacionamentos muito próximos, esteve também a de usufruir o Saber já elaborado por uma infinidade de autores que, escrevendo livros, sempre objetivam partilhar o conhecimento sobre o mundo com toda a humanidade, mesmo que seja uma utopia.

            Começando a expressar a quem devo essa conquista começo pelos meus pais que, com muito esforço e contribuição de outros, me matricularam (e às irmãs também) no Colégio São José, pois, talvez, sem total consciência, por sua humildade, mesmo assim foi-lhes possível observar que se trataria de um ensino de qualidade, acompanhado de valores e princípios, dois quesitos que  as irmãs franciscanas defendiam com fervor.

            Foi, então, no Colégio São José, hoje Colégio Franciscano São José que realizei toda a formação inicial até chegar ao Curso Normal que me faria educadora. Sim, não só professora, mas educadora, o que significava importar-se com a vida do estudante, com seu caráter, com sua personalidade para a conquista e o exercício da cidadania, como proclamava o seu corpo docente.  

            Foi o vivenciar desse Projeto Educacional das Irmãs Franciscanas que me fez compreender que o conhecimento sobre o mundo era indispensável. Porém, teria que ser acompanhado da vivência dos valores essenciais, já que as pessoas que adotaram como exemplos de vida – São Francisco e São José – demonstraram em suas vidas ter humildade para bem ensinar e amor por todos os seres vivos, entre os quais,  evidentemente, se encontravam os humanos, em especial os menos privilegiados. Portanto, recebi uma formação humanística que levaria comigo para a sala de aula, objetivando o mesmo para os educandos.

            Quando optei novamente pela Educação escolhi o Curso de Estudos Sociais do CESE/FAPES/Erechim (extensão da UPF), cujo Currículo continha ciências que eram do meu agrado, pois já havia esboçado um fervor pela natureza e a vontade de conhecer melhor a sociedade humana.  Após, parti para um aprofundamento em Geografia na UPF e na UNESP/Rio Claro. Assim, fui criando uma paixão arrebatadora pela Geografia, que conservo até hoje.

            Nas Universidades freqüentadas, a pesquisa, a elaboração e a re-elaboração do pensamento de muitos autores se constituíam num desafio permanente. Os mestres, eficientes e exigentes, não dispensavam a leitura de livros e mais livros, pois sabedores que neles os acadêmicos encontrariam as certezas e as incertezas sobre a vida humana, as quais seriam as referências para a formação de educadores capazes de formar pessoas críticas, criativas e engajadas.

            Assim, em cada um dos espaços vivenciados encontrei o respaldo necessário para a carreira escolhida: gestores competentes e colegas solidários, cujos desafios eram partilhados. E, para preparar as aulas o indispensável: bibliotecas com acervos que permitiam a apropriação dos conhecimentos que serviriam para alimentá-las, garantindo alcançar os objetivos propostos. Quais?  Todos os que, indubitavelmente, contribuiriam para o conhecimento do mundo e capacitassem os estudantes a interferir de forma dinâmica e criativa no seu espaço de vivência. Este é o resumo da leitura dos Projetos Político-Pedagógicos de cada uma delas.

            Dessa forma, escolher a Educação é escolher os livros e   relacionamentos desafiadores, pela diversidade de concepções de mundo, de convívio cotidiano por longos anos: colegas, funcionários, pais e estudantes, num paralelismo constante entre unidade e diversidade.

            Portanto, devo muito a todos que fizeram parte das comunidades escolares, quando juntas enfrentávamos os desafios do processo educativo, numa sociedade que ia se modificando aceleradamente, exigindo, tanto dos professores, como dos estudantes a aquisição das habilidades e competências necessárias para os avanços pretendidos.  

            Não posso deixar de acentuar o quanto os teóricos da Educação e de várias Ciências Sociais e Exatas contribuíram para a apropriação dos conhecimentos para que pudesse ser professora/educadora. Sem seus livros, pouco saberia sobre o mundo e de como participar dele de forma consciente, já que a profissão deveria ser acompanhada de atos políticos que auxiliariam a perceber as mudanças necessárias em vários campos da vida. Assim, geógrafos, historiadores, sociólogos, antropólogos, filósofos, biólogos, químicos, físicos, astrofísicos foram os que mais me acompanharam. A eles devo o cultivo de muitas paixões.

            Mas sei que devo muito também aos saberes populares que me deixavam encantada e me fizeram ter a certeza do merecimento de sermos todos sapiens sapiens.

            Por fim (o que não quer dizer por último) devo muitíssimo aos estudantes das várias escolas que atuei: Colégio Franciscano São José, Ginásio de Jacutinga, Escola Normal José Bonifácio, EE João Caruso, EE Professor Mantovani. Igualmente aos acadêmicos da URI-Erechim, UNOESC-Chapecó/Joaçaba/Caçador e UPF. Foram eles a razão maior de minha devoção ao Magistério e, sem dúvida, os que mais me instigaram a ter os livros como companheiros sistemáticos, porque, senão questionadores, reclusos em sua timidez, o que exigia maior desempenho ainda para que estes fossem tão protagonistas como os primeiros.

            Obrigada, muito obrigada aos que me referi e aos que não o fiz. Igualmente, aos que me escolhera, por sua generosidade. Aos meus filhos, agradeço com estima, porque nunca disseram: “Mãe, fica”.

            Por esta interconectividade toda é que repito: ser patrona da Feira do Livro se resumiu a uma conquista coletiva porque, parafraseando Capra, acrescento: SOMOS UMA TEIA.

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