Educar para a cidadania: um momento para lá de propício
Neide Lourdes Piran
Professora aposentada
Quando recebi o primeiro Contrato do Estado foi para lecionar EMOCI, uma disciplina que recebia aplausos da parte de alguns e considerações críticas de outros.
Ao ter a oportunidade de lecionar na URI, a área escolhida tinha sido a de Estudos Sociais, que também continha conteúdos que propiciavam a reflexão sobre civismo e cidadania plena, um caminho a ser construído junto aos estudantes.
No contato com a área da Educação e suas concepções teóricas encontrei em Freire e Gadotti, entre outros, os fundamentos que embasavam a importância da cidadania ser trabalhada em aula.
Mas para que os educadores nacionais e internacionais propunham a questão cidadã?
Para que os estudantes fossem protagonistas na construção de seu conhecimento, sujeitos históricos aptos a compreenderem a realidade como uma totalidade, onde complexas interconexões se fazem presentes.
Construir-se como sujeito significava adquirir as habilidades e competências necessárias para entender o mundo e, paralelamente, ter consciência de seu papel social, porque a cada um caberia o cumprimento dos deveres e a vivência de direitos.
Esta educação para a cidadania sempre coube, com maior ênfase, aos educadores, mas, ressalto que à sociedade como um todo, também cabe.
Por que trago este tema? Porque o papel do educador global não se encerra na aposentadoria, prolongando-se pela vida afora, desde que cedamos nosso tempo individual para causas do bem comum. Por isto, ainda me sinto comprometida.
Mas, também porque é um momento muito propício para refletirmos sobre a condição de cidadania a que estamos sempre sujeitos, já que estamos vivenciando mais um pleito eleitoral, um acontecimento que permeia a vida de grande parte das populações e, portanto, próprio das sociedades organizadas.
Como é de se esperar, um período tenso, exatamente porque há uma disputa por diferentes Projetos, já que não temos a mesma concordância quanto à visão de mundo. Sim, porque se assim não fosse, não precisaria existir os diferentes partidos políticos disputando o voto da população.
Por estas razões, o confronto passa a ser inevitável, o que não significa dizer que precisa ser desdenhoso ou violento. Assim, convém que nos eduquemos para perceber a normalidade do período e que há diferentes projetos em disputa, cada qual apontando para um determinado segmento populacional.
Muitos já ouviram populares dizerem ter "horror" a esse período, colocando todos os políticos no "mesmo saco" e que "não acreditam em mais ninguém".
Saibamos que nem por isto os políticos deixarão de existir, porque estamos organizados local, regional e nacionalmente para que a democracia representativa decida as grandes questões que fazem parte da vida social e econômica.
O melhor é estar consciente de que é assim e partir para se posicionar a favor deste ou daquele Projeto. Vejamos bem, eu escrevi Projetos. O senso comum produziu a ideia de que, se não temos um partido definido, podemos votar em pessoas que sejam boas. Ledo engano, quando escolhemos os candidatos a quem queremos dar o voto, escolhemos junto um Projeto, mesmo que não tenhamos clareza disto.
Não nos deixemos dominar por idéias fascistas e exerçamos nossa cidadania. Ouçamos todas as propostas. Não tenhamos "raiva" da propaganda eleitoral porque fará parte da nossa vida de dois em dois anos. É uma oportunidade para diferenciar os Projetos e escolher aquele que confiamos ser o melhor para a maioria dos brasileiros.
Porém, convém lembrar: se não temos certeza de "quem é quem" na disputa podemos recorrer à história, a pressupostos sociológicos e filosóficos onde encontraremos a explicação de como funciona a sociedade, garantindo uma clareza maior de que escolha estamos fazendo.
E não paremos no voto. Ser um cidadão pleno exige o acompanhamento sistemático do desempenho a quem confiamos o presente e o futuro do Brasil.