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Blog do Marcos Vinicius Simon Leite

Marcos Vinicius Simon Leite

Inflação e Eleições – Parte II

Por Marcos Vinicius Simon Leite
Foto Rodrigo Finardi

Em minha coluna de ontem, escrevi sobre o oportunismo de quem pretende usar a inflação como meio de se promover politicamente nas eleições presidenciais do ano que vem. Se você não leu, volte uma casa e entenda porque quase a metade dos eleitores estará sujeita ao discurso adesivo, tal como aquele que levou a Venezuela à condição de miséria. Mas hoje, vou falar um pouco mais de economia e dos riscos que corremos diante desses políticos oportunistas. É um assunto chato, como eu disse ontem, tão chato quanto você perceber que o seu salário já não tem mais o valor que tinha meses atrás. Eu avisei.

O pacto federativo

Ressalvado o período em que Getúlio Vargas queria bancar de ditador, com a adoção da Constituição Polaca de 1937 que suprimiu os poderes dos Estados e Municípios, somos, desde 1889 uma república federativa. Comemoramos isso semana passada, dia 15 de novembro, lembra? Assim, com o advento da Covid, foi necessário contar com a união federativa, o que de certa forma ocorreu por meio da Lei Complementar 173, de maio de 2020. Conhecida como o Programa Federativo de Enfrentamento ao Covid, esta lei representou uma espécie de pacto entre a União, Estados e Municípios. Chamou atenção nesta norma um de seus dispositivos, que proibia a reposição salarial dos servidores públicos em todo o País até dezembro de 2021, entre outras vedações.

Reposição salarial e inflação

Mas o que isso tem a ver com inflação? Tudo. Para enfrentar os gastos decorrentes da pandemia, o governo precisava garantir recursos e esse congelamento dos servidores foi uma dessas fontes. Considerando que a inflação é um fenômeno que afeta o comportamento de compra das pessoas, com a desvalorização constante da moeda as pessoas tendem a comprar mais quando dispõem de mais recursos. E é justamente aí que reside o problema. Terminado esse prazo de vedação, é provável que as administrações municipais, estaduais e federais, pressionadas também pelo ano eleitoral, queiram salvar seus servidores do flagelo da inflação, repondo as perdas ocasionadas pela inflação. Por mais que se tenha os limites de responsabilidade fiscal, a reposição salarial dos servidores em um momento crítico como este deve provocar ainda mais inflação.

Em números

Então vamos aos números. O Brasil tem hoje cerca de 80 milhões de pessoas em idade laboral. Deste montante, 12 milhões servem ao serviço público, o que corresponde a 15% da força geradora de renda. Neste sentido, qualquer reposição salarial tende a elevar a demanda e, por consequência, elevar a inflação. Já escrevi outro dia como os governos adoram a inflação. De um lado repõem salários, mas de outro a inflação devolve através dos tributos, que tem suas bases de cálculo atreladas aos preços. Só quem perde é o assalariado, os outros 85% da população economicamente ativa. Pobres servidores públicos, que ainda por cima tem de carregar a culpa. Simplificando o raciocínio: se dobrássemos o valor do salário mínimo hoje, em muito pouco tempo ele teria o mesmo poder de compra de antes. Tudo por causa da inflação.

Medidas econômicas

Por óbvio que a equipe econômica do governo não poderia anunciar que teríamos inflação, sob pena de o boato causar o fato. Todavia, quando o governo insistia que a produção não poderia parar, era da inflação que ele tinha medo. Essa “parada” global da pandemia desequilibrou o setor produtivo, ocasionando os chamados choques de oferta, que funcionam como gatilho inflacionário. É como se a conta do “fica em casa” finalmente chegasse à sua porta. Com efeito, a conta agora recai sobre todos. Ela vem no preço dos combustíveis, dos alimentos, dos tributos. Quase tudo sofre esse impacto. E não adianta, a ciência já comprovou que para combater a inflação precisamos frear o consumo e aumentar a taxa de juros. Com juros altos as pessoas tendem a poupar em vez de consumir ou investir. Com a redução dos investimentos, vem o desemprego e a recessão. Esses dois fantasmas, por incrível que pareça, combatem a inflação. São remédios amargos demais para quem esperava ver o Brasil como país do futuro. Mas pense aí: que político teria coragem de falar sobre isso?

Economista oncologista

É por essas e outras que ser economista no Brasil é tarefa complicada. Fácil mesmo é falar mal do governo, depois que o cerco aperta. Infelizmente a história mostra que o melhor plano econômico para conter a inflação é o tempo. Lidar com a economia do nosso país é tarefa para oncologista. O quanto antes forem adotadas as ações, como o famigerado aumento dos juros entre outras medidas amargas, menor é a chance de o Brasil se tornar um doente terminal, a exemplo da Venezuela, ou mesmo a vizinha Argentina, que vem logo atrás. Governos populistas tendem a adotar medidas brandas, que só produzem efeitos de curto prazo. Por isso, antes de apertar o “confirma”, saiba que tipo de remédio você gostaria de dar ao seu país. Não é com um chazinho que se cura um câncer. Que assunto chato!

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