Cada vez mais “down” no “hight society”
Nosso planeta anda doente. A Terra parece estar com febre, mas muitos preferem dizer que é o aquecimento global. A Terra chora, mas há quem diga que as inundações são culpa do “el niño” ou da “la niña”. A Terra treme, se rasga, desaba, mas nós, amantes da ciência, dizemos que são abalos sísmicos. Damos nome a tudo e não explicamos nada.
Pandemia
Nem faz tanto tempo assim. No começo do ano passado os telejornais ainda ostentavam o número dos mortos na pandemia. Sim, passamos por uma e não foi nada fácil. Não havia receita para enfrentar o inimigo invisível. Nem cloroquina, nem homeopatia, nem as várias doses de vacina. Alguns países pararam. Outros não se importaram. Morreu gente do mesmo modo. Da pandemia ficamos com o pior legado: o uso para fins políticos.
No princípio
Passamos por momentos de muita apreensão. O Brasil assistia pela televisão as imagens, especialmente as que vinham da Europa. Tudo parado. O sensacionalismo e o medo tomaram conta do imaginário mundial. Lembram daqueles chineses caindo instantaneamente? Muita informação desencontrada. A Faixa de Gaza por exemplo, que é densamente populosa, por certo que teve suas vítimas, mas continuou muito populosa. Será que os palestinos tinham máscaras? Seus complexos túneis tiveram suas construções interrompidas para evitar o contágio? Há lugares em que o medo é maior. Será que as pessoas morreram por causa do medo? Não é possível saber. O que se sabe, é que parece que não aprendemos nada com a pandemia. Nada. Quando ela acabou, o medo se foi. Só que não…
Ucrânia
Quando tudo parecia superado, alguém teve a ideia de invadir a Ucrânia. Como se o planeta precisasse de uma guerra, já que a Covid não tinha sido capaz de fazer o ser humano evoluir, melhorar. O mundo todo voltou as atenções para lá. Estávamos à beira de um conflito mundial. Dessa vez não foi a OMS a coordenar os esforços. Foi a ONU. E o que ela conseguiu? Muito pouco. Quase nada. Aos olhos de quem gosta de peleia, parece ter dado um sinal verde para avançarem com mais conflitos. Mesmo quem vive longe, acabou sentindo no bolso os efeitos da guerra: inflação, por exemplo. Trocamos de presidente e nada mudou com a Terra, a não ser o discurso. Saiu a verborragia desesperada de um e entrou a vigarice perdulária de outro. Trocamos o pastel pela picanha, mas só poucos comem, como nos tempos do velho Stalin.
Israel
E quando achávamos que a tal Guerra na Ucrânia já tinha esfriado, surge essa barbárie no Oriente Médio. Para quem não sabe, foi lá que torturaram, zombaram, crucificaram e perfuraram Jesus Cristo. Julgado entre os ladrões. Mas isso foi há quase dois mil anos. Desde então, evoluímos? O Oriente é uma terra abençoada e doente. Adoecida pelas religiões que há milênios usam suas crenças para fazer mal aos outros. Como se as pessoas nascessem com um selo de qualidade, ou com aquele sinal nada discreto que Deus pôs na testa de Caim depois dele ter matado o irmão Abel por ciúmes. Ciúmes de Deus. Como isso é possível? Mas é.
Imagens
Por mais que estude jornalismo, procuro não ficar muito tempo ligado ao noticiário. Porque sofro com isso. Mas é preciso assistir. E o que vejo, em muito se parece com aqueles filmes do tempo de Cristo. Pessoas queimadas vivas, mulheres apedrejadas, crianças e velhos decapitados. Um quadro de horrores. Terrorismo qualificado. No real significado. Os pobres palestinos, em vez de fugirem do confronto, permanecem. Como se a morte para eles fosse uma coisa boa, um livramento, algo banal, como um dia citou a filósofa Hannah Arendt. E nós, ocidentais, assistimos (quando assistimos) tudo isso sem ter nada o que fazer. Nos sentimos impotentes, cúmplices e covardes.
Está difícil viver a realidade. Difícil ver centenas de crianças morrendo de frio no chão duro dos hospitais em Gaza. Difícil ver que quem clamava contra o nazismo agora tem postura antissemita. Está difícil a vida na Terra. Como um dia cantaram Elis Regina e Rita Lee: alô, alô marciano, aqui quem fala é da Terra, pra variar, estamos em guerra…