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Rural

Desafio é integrar produção e comercialização

Muitos são os desafios para desenvolver o setor agropecuário

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Secretário Leandro Basso
Diretor agropecuário Tobias Biazi
Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Ígor Dalla Rosa Müller

“Toda vez que estiver fazendo uma refeição faça uma retrospectiva de quantas mãos esse alimento passou. Com certeza foram mãos bem calejadas para chegar até a mesa do consumidor”, comenta o secretário de Agricultura, Abastecimento e Segurança Alimentar, Leandro Basso. A seguir, ele apresenta um panorama geral da agricultura de Erechim, desafios e conquistas.

Panorama geral

A realidade da agricultura vem gradativamente mudando ao longo dos anos, afirma Basso. Erechim tem em torno de 28 mil hectares disponíveis para produção de grãos, distribuídos entre as culturas de soja, milho, trigo, pastagens, sendo que o milho geralmente é transformado em alimento para o gado. “A produção de soja vai bem, mas tem que buscar incremento de umas 10 sacas por hectare”, afirma.

A bacia leiteira tem hoje em torno de seis mil animais produtivos com uma produção média de 70 mil litros por dia. “Já tivemos muito mais gente trabalhando”, observa.

Agroindústrias

O município possui 62 agroindústrias de diferentes tipos com produtos de origem animal, queijo, produtos lácteos, embutidos carnes, ovos, mel; de origem vegetal, farináceos, panifícios, doces; vinhos e sucos e agora semiprocessados com batata e mandioca descascada.

Feiras

Erechim tem dez feiras em funcionamento uma localizada no bairro Progresso, Paiol Grande, Centro, Três Vendas, Campos Sales, Parque Lívia, Atlântico, São Cristovão, Longines Malinowski e na sede do Daer.

Hortifrútis

A cidade tem cerca de 100 famílias que atuam na produção de hortaliças, legumes e frutas. Segundo Basso, muitos são feirantes e outros fazem a comercialização com a rede de mercados da cidade. A produção de moranguinho vem crescendo nos últimos, a cultura tem bom valor agregado, tendo em vista o espaço pequeno que ocupa.

Flores

Setor bem tecnificado, a produção de flores no município tem atualmente em torno de 10 famílias cultivando diversos tipos de plantas.

Integração

O sistema de integração de aves e suínos, coordenados principalmente pela Alfa e Aurora, vem reduzindo o seu plantel de produtores nos últimos anos.  Entre os dois segmentos, Erechim tem cerca de 40 famílias de suinocultores e avicultores. “Já foi muito mais, chegamos a ter 70 famílias só de aves e mais de 70 em suínos. Está diminuindo, isso se deve aos desafios”, explica Basso. Esses são os grupos que configuram a cadeia rural do município, sendo composta por pequenos, médios e grandes produtores.

Avaliação

Conforme Basso, a pasta de agricultura do município de Erechim vem por um longo período tendo menor capacidade de investimentos, recebendo hoje 2,7% do orçamento municipal, algo em torno de R$6,5 milhões. No entanto, são muitas as suas atribuições, ela responde por todas as estradas vicinais de Erechim; pelo tratamento e análise de água de 45 poços artesianos; responde pela inspeção sanitária nas agroindústrias, frigoríficos, matadouros, tendo dois profissionais cedidos para o frigorifico Aurora. “Isto é, tem uma grande responsabilidade”, afirma.

Desafios

Entre os desafios, observa Basso, está garantir estrutura de acesso, estradas, às propriedades rurais do município. Erechim tem cerca de 1300 quilômetros de estradas vicinais. Uma delas é o cascalho, matéria-prima principal para deixar as estradas em condições. Contudo, há muita dificuldade em conseguir licenciar novas cascalheiras. “Oito cascalheiras estão em processo de licenciamento aguardando parecer do Iphan”.

Por que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)? Basso explica que uma nova legislação federal vincula a extração do cascalho ao parecer do Iphan, do Ministério da Cultura, em função de achados arqueológicos. “Acho um absurdo essa exigência. Enquanto não se supera essa legislação tem que respeitá-la”, ressalta.   

Tecnologia

Para o secretário, tem muita tecnologia disponível no mercado, mas que ainda tem que chegar ao sistema produtivo local.

Escrituras

Erechim tem mais de 600 pequenas áreas que precisam ser regularizadas a fim de ser escrituradas. Contudo, pela legislação atual não consegue fazer a escritura, e dessa forma, não tem acesso ao crédito.

Sucessão

A realidade mais desafiadora para Basso é olhar a faixa etária de quem está no interior. “O nosso meio rural envelheceu, a juventude veio para o espaço urbano e poucos estão se motivando a retornar”, comenta.  

Hoje, Erechim tem uma população estimada em quase 104 mil habitantes, destes, menos de três mil pessoas vivem no meio rural, sendo que 70% estão acima de 30 anos.

O secretário afirma que a tecnologia pode ser um fator de estímulo para que a juventude volte para o meio rural. Aliado aos incentivos de ordem econômica, qualidade de vida, internet, transporte escolar.

Ele afirma que boa parte do interior de Erechim tem acesso à internet, porém ainda tem lugares que não tem sinal de celular. A secretaria tem programa de auxílio para instalação no interior de celular e fibra ótica.

A partir de 2019 será exigida nota fiscal eletrônica da venda de produtos agrícolas. “Vai ser necessário ter internet para poder emitir a nota fiscal eletrônica lá no campo”, destaca.   

Acessos

Conforme Basso, a secretaria de Agricultura construiu nesses 18 meses, 32 pontes, refez totalmente ou substituiu a estrutura antiga de tubulação por alta vazão, colocou mais de 140 novas canalizações. A pasta realizou patrolamento, cascalhameto e alargamento de muitas estradas. “Várias ações nesse sentido, mas temos muito a fazer”, salienta. Tudo isso são exigências da nova realidade do campo com máquinas maiores.

Educação

Segundo Basso, o transporte escolar no meio rural garante o acesso da criança à escola, no entanto, a educação se tornou muito urbana, retirando a criança do campo. “Permanece apenas aberta as escolas do Jaguaretê e Capo-Erê, todas as demais escolas do interior foram fechadas. A última que está sendo fechada nesse ano é do Km 10 Argenta. Isso passa uma mensagem de que a cidade é melhor que a roça”, destaca.

“Nosso desafio é reverter essa situação, mostrar para a pessoa que está no espaço urbano e que tem raiz no meio rural, que é possível voltar e ver que lá ela consegue ter qualidade de vida, renda e construir seus sonhos. Visto que o espaço urbano já não está conseguindo garantir postos de trabalho”, observa.

Alternativa

Uma alternativa para o agricultor do Alto Uruguai seria a produção de peixes como uma fonte de renda complementar. Contudo, segundo Basso, não é possível potencializar a cadeia do peixe porque esbarra na legislação ambiental, que hoje não permite criar tilápia, catfisch em escala comercial no RS. “Realidade que não se encontra em SC e PR. Em Palotina (PR) tem o maior frigorífico de peixe da região sul, gerando 400 empregos. E, aqui, ainda é crime produzir peixe”, destaca.

Distrito agroindustrial

O secretário ressalta que o município necessita de um distrito agroindustrial. “Se quiser colocar uma fábrica de rapadura, mandolate, sorvete, onde ela se instala?”, questiona.

Futuro

Há diversas entidades que se envolvem na tentativa de fixar as pessoas no campo para produzir alimentos. Mas a dificuldade é integrar a cadeia desde a produção até a comercialização. “As cadeias investem no fomento da produção e depois não conseguem garantir a industrialização e o comércio” comenta Basso.

“Tem muitas coisas boas, mas tem o desafio de entender que nesses 100 anos de colonização mudou o perfil das pessoas”.

O secretário comenta que o Alto Uruguai é só uma cidade com 250 mil pessoas um pouco maior que Passo Fundo que tem 200 mil. “Somos 32 municípios, muitos deles sem acesso asfáltico. Não dá pra pensar a solução de Erechim sem pensar a solução para o Alto Uruguai”, observa.

Basso enfatiza que toda cadeia do agronegócio representa 52% da atividade econômica do estado, porém sempre sofre do pouco investimento que os governos fazem. “Isso não é observação ao governo municipal. Se pegar a soma que todos os municípios investem nas pastas da agricultura dá menos de 1% do total de orçamentos municipais disponíveis. Quem garante a segurança econômica não está tendo o retorno necessário”, pontua.  

Segundo Basso, é preciso também recursos para fomentar a cultura, lazer, entretenimento, “resgatar as histórias das comunidades e o que elas têm de bom”. E, acrescenta, “nosso município tem muito a crescer”, conclui.

Fomento

O diretor agropecuário Tobias Biazi afirma que Erechim tem várias políticas de fomento à agricultura como, por exemplo, a fruticultura, bovinocultura de leite, bovinocultura de corte e ovinocultura. Assim como, a secretaria vem investindo em implementos agropecuários novos para auxiliar na produção.

Outro exemplo, intermediado pela secretaria foi ter conseguido recursos a fundo perdido para que 10 famílias de agricultores do município investissem R$10mil em projeto de irrigação de pastagens e hortaliças, sem custo para o produtor.

Conforme Tobias, apesar de ser um movimento tímido, em alguns setores é possível ver os jovens se desafiando, empreendendo, ficando e até retornando para trabalhar no campo, como por exemplo, agroindústrias e cultivo de hortifrútis.  

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