Quando apagou a última das 140 velhinhas alusivas a mais uma passagem de ano, neste dia 14 de março, Albert Einstein sentou esbaforido e sem ar no puff cor de abóbora comprado por sua primeira esposa, Mileva Maric – com quem, dizem, Albert deveria ter dividido o Nobel de Física de 1921 (e não o fez).
Enquanto isso, na ampla sala que cheirava a vela queimada, seus tatataranetos pediam a atenção do ancião. Com um gesto de mão, porém, o físico dispensou as crianças a fim de recuperar a respiração e conceder a entrevista que segue. Confira:
(P.s.: Todas as respostas respeitam frases proferidas originalmente pelo gênio).
A teoria da relatividade se aplica de modo adequado à política tupiniquim, onde o que muitos diziam ontem já não vale mais hoje, especialmente, em razão de interesses e preconceitos. Isso lhe chateia?
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. A liberação da energia atômica mudou tudo, menos nossa maneira de pensar.
Verdade. Discursos de ódio contra minorias crescem no Brasil e em diversos países. Até onde isso pode nos levar?
O mundo é um lugar perigoso de se viver, meu jovem, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.
O que, em sua opinião, motivaria tais ações?
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta.
Enquanto isso, sentimentos nacionalistas crescem...
O nacionalismo é uma doença infantil; é o sarampo da humanidade.
E a religião, que peso teria neste contexto?
A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia. Mas, frise-se: Deus é a lei e o legislador do Universo.
Como descobrir a verdade e o caminho certo a seguir num mundo de incertezas?
Comigo funciona assim: penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela.
O que o Sr faz quando não se sente à vontade diante de determinadas situações?
Se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos.
Só entre nós, suas principais descobertas científicas vieram apenas de ‘sua cabeça’ ou a Mileva deu uma mãozinha?
Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos.
Por que o Sr não responde de maneira objetiva?
Os ideais que iluminaram o meu caminho são a bondade, a beleza e a verdade.
Ok, entendi. Bom, em 1933, logo no início da ascensão do nazismo na Alemanha o Sr ‘deu no pé’, indo morar nos EUA. Olhando para trás, que avaliação o Sr faz desta escolha?
Se minha Teoria da Relatividade estivesse correta, como estava, a Alemanha diria, como disse, que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estivesse, a França diria que sou alemão e os alemães diriam que sou judeu, como sou.
A quem está nos lendo agora, que dica o Sr. daria para quem quer ‘viver melhor’?
Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre. De quebra, digo mais: procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso.
E para ser feliz?
Se quiser viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas. Aliás, evitar a felicidade com medo de que ela acabe é o melhor meio de se tornar infeliz, não esqueça.
O que seria um homem livre?
Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior, mas também de acordo com uma necessidade interior.
O Sr é uma pessoas famosa. Como encara isso?
A fama é para os homens como os cabelos - cresce depois da morte, quando já lhe é de pouca serventia.
Vivemos a era do big data, da Inteligência Artificial, da internet das coisas. Onde vamos parar?
Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.
Caso tivesse que escolher entre o mundo e o amor, qual seria sua opção?
Se escolher o mundo, ficaria sem o amor; mas se escolhesse o amor, com ele conquistaria o mundo.
Bonito. E entre saber e imaginação?
Imaginar é mais importante que saber, pois o conhecimento é limitado enquanto a imaginação abraça o universo.
O Sr se considera um gênio?
Não é que eu sou tão esperto, apenas fico com os problemas por mais tempo. Mas, te digo: qualquer tolo inteligente consegue fazer coisas maiores e mais complexas. É necessário, sim, um toque de gênio - e muita coragem para ir na direção oposta.
O Sr tem medo de cometer erros?
Quem nunca errou nunca experimentou nada novo.
Como diferencia um sábio de um homem inteligente?
Uma pessoa inteligente resolve um problema, o sábio o previne.
O que o Sr teria a dizer a seus críticos?
Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres.
Está difícil encontrar uma luz no fim do túnel da humanidade... Há esperança?
No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade reside a oportunidade.
Lá se foram 140 anos desde seu nascimento, em 14 de março de 1789. O que este tempo lhe trouxe?
Existe uma coisa que uma longa existência me ensinou: toda a nossa ciência, comparada à realidade, é primitiva e inocente; e, portanto, é o que temos de mais valioso.
Por fim, qual é o segredo de uma vida longa?
Viver é como andar de bicicleta: É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio.
Observação: Mesmo (parecendo – e sendo) atual, Albert Einstein morreu aos 76 anos (18 de abril de 1955), em Princeton, nos EUA.