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Espetáculo instiga debates sobre violência contra as mulheres

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Peça contou com a participação do público
Atrizes avaliam que a sociedade deve ser questionada com relação a violência contra a mulher
Por Amanda Mendes
Foto Amanda Mendes

Feminicídio: uma temática importante que merece diversos espaços para ser debatida. Sua emergência atualmente chamou a atenção de setores culturais, como é o caso do Coletivo Manadas de Teatro do Ceará que viajou mais de quatro mil quilômetros para trazer a peça "Aquelas - uma dieta para caber no mundo" às cidades gaúchas. 
Em Erechim, a peça que foi viabilizada pelo projeto Palco Giratório do Sesc, ocorreu na noite de quinta-feira (23), no Centro Cultural 25 de Julho. O grupo está percorrendo diversos município do Rio Grande do Sul e já passou por Porto Alegre, Novo Hamburgo, Caxias e Carazinho.
O espetáculo que é encenado por duas atrizes contou a história de Maria de Bil, santa popular da cidade de Várzea Alegre, no Ceará, assassinada por seu companheiro, em 1926. A peça misturou elementos míticos e reflexões a partir da transformação de Maria em santa quando seu esposo comete o assassinato e vira um "lobisomem", trazendo questionamentos sobre a violência contra a mulher. 
De acordo com uma das atrizes, Juliana Veras, o tema, infelizmente, pede muita urgência em sua abordagem. "Quando iniciamos o projeto só tínhamos a temática e começamos a pesquisar casos de feminicídio. O Estado do Ceará apresenta diversos registros, mas a prática dessa violência acontece em diversos lugares e, por isso, o Sesc nos convidou para dialogar com o público gaúcho", pontuou Juliana em entrevista ao Jornal Bom Dia. 
Neste sentido, o espetáculo visa despertar a consciência das pessoas com relação a violência contra a mulher. "A peça questiona os motivos pelos quais a sociedade se sente autorizada a permitir que as mulheres sejam mutiladas, assassinadas, bem como, que sofra violências psicológicas, afligindo, às vezes, de forma tão mais íntima e traumática", reforçou a atriz, lembrando ainda, que já ouviu diversos relatos sobre violências psicológicas, "elas podem ser mais sérias, pois quando as mulheres são atingidas fisicamente, talvez elas possam se defender", argumentou. 
Sobretudo, o objetivo é dar visibilidade à temática e atuar em seu combate por meio da arte. "O importante é que por meio do 'Aquelas', estamos tentando dialogar com esse público e ficamos muito felizes de estarmos aqui, pois percebemos que as pessoas ficam emocionadas e isso nos toca enquanto grupo. E é um momento muito propício, infelizmente, para tratarmos sobre esse tema, pois a nossa arma é a arte e talvez com esse espetáculo, podemos plantar sementes, meio como um exercício de formiguinhas, para que de repente as próximas gerações não venham a achar banal ou natural a violência contra as mulheres", concluiu a atriz. 
Ao fim do espetáculo houve um bate-papo com o público, momento que a outra atriz da peça, Monique Cardoso, explicou que a ideia não é questionar a fé das pessoas, mas falar sobre a violência contra a mulher e, principalmente, a maneira como a Maria continua sendo explorada mesmo depois de assassinada. 

"Uma experiência única"
O público que acompanhou a encenação teve uma experiência única como avalia uma das expectadoras, Joemir Rosset. "Nós podemos estar juntos a elas, pois também assistimos do palco", comentou à reportagem, citando ainda, momentos do espetáculo, "quando a Juliana passa pela mesa cheia de facas, com os olhos vendados e apenas com um moço da plateia guiando-a é muito forte, mostra a confiança que ela tem no público e hoje em dia, isso é muito incomum, pois a violência está presente em nosso dia a dia, a todo instante estamos sujeitas a passar situações que nos afligem", concluiu. 

"Silenciamento da mulher"
Para a discente Franciley Camargo, o momento mais marcante foi o que ela interpretou como "silenciamento". "A cada trecho sobre a violência contra a mulher que era representado por elas, sempre havia um momento em que a violência era "esquecida" e voltávamos ao processo de preparo do carpaccio. Não consegui parar de pensar o quanto esse sentimento e esses atos de silenciamento da mulher são parte de nosso cotidiano. Independente do que seja causado a nós, seja a violência física ou psicológica, sempre há um silenciamento. Nós vamos sendo ensinadas a nos calar diante dessa esfera machista em que vivemos diariamente", comentou. Para ela, a experiência transcende o simples exercício de ir ao teatro. "Não foi simplesmente ir, assistir, entrar no carro e voltar para casa. As cenas exigiam um exercício mental e um controle emocional gigantesco", concluiu. 

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