Fazem exatamente 22 dias em que o jornal Bom Dia publicou a matéria “Primeira escola de Erechim carece de vistoria para mostrar real situação”, e fazem exatamente seis dias que a primeira escola de Erechim, a do professor Carlos Mantovani veio ao chão deixando claro para toda a população o quanto a cultura, em especial a preservação de prédios históricos, são tratados ao longo dos anos. Mesmo com o suspiro por parte da imprensa, historiadores e escritores que sempre alertavam para esta tragédia, nada foi feito e o pior aconteceu, ou seja, veio ao chão na madrugada da última sexta-feira.
Cabe aqui destacar que muitas pessoas sempre primaram pela preservação histórica de Erechim, seja de bens materiais como imateriais, seja de construções, documentos, fotografias, peças, objetos e tantos outros artefatos que contam a história de pessoas que deram sua vida para que Erechim se tornasse o que é hoje, pomposa, mas sem nenhum resgate histórico.
José Albano Volkmer
O Jornal Bom Dia também publicou, recentemente, matéria sobre urbanismo, momento em que destacou o trabalho do arquiteto José Albano Volkmer por terras bota amarela, da importância da preservação da memória de nosso povo por meio de seus prédios, vias públicas, monumentos e demais construções. Morreu o mestre, morreram as aulas.
Várias pessoas
Mas, nesta caminhada várias pessoas sempre estiveram envolvidas, umas mais a fundo, outras nem tanto, e uma destas figuras que sempre lutou e luta para que nossa história e memória seja preservada, está o Vanda Groch que, triste após o acontecido, lamenta que a casa do mestre tenha tombado, mas principalmente pela mancha que fica para o município, pois é como uma gangrena que nunca curava e que terminou seu trabalho, infelizmente.
Casa/Moradia
Vanda destaca, inicialmente, que é importante saber a definição do que é uma casa, ou seja, uma estrutura física, material, que diferencia de uma moradia que é o ato de morar, uma função humana. “A primeira escola de Erechim foi casa e moradia ao mesmo tempo e, agora, resta voltar ao estado original para manter a identidade, as características e a autenticidade da época da construção e concepção arquitetônica da época, pois existem fotos e documentos para que se possa seguir corretamente a sua reconstrução, mas a obra tem que ser já. Neste momento é muito importante que se guarde peças da casa em madeira para que possam servir de modelo”.
Reconstrução
Para Vanda não há mais espaço para a restauração, mas sim a sua reconstrução, pois ainda existem carpinteiros e profissionais que possam realizar a proeza. “Temos muitos artistas nesta área, de construir em madeira”.
Memóriabilia
“Domingo, com sol, observar a casa de número 112 caída suscitou sentimentos de emoções, imensa tristeza e muitas dúvidas com relação ao amanhã. Sem nenhum julgamento de nossa parte, mas com esperança sem medida de que será encontrada uma solução prática e urgente. Boas iniciativas e intenções na prática devem ser colocadas em ação. Uma ação de um movimento conhecido como Memóriabilia que é a memória salvando a história”, garante.
Vanda destaca que a Memóriabilia são concepções atuais com a participação de muitos autores, sendo uma delas é Suzana Vernieri. “São fatos ou coisas dignos de memória, que suscitam lembranças, objetos e itens relacionados a pessoas e mobílias. Uma mobilização de historiadores, cientistas sociais e público interessado nas problemáticas apresentadas”.
Museologia
Para ela, é de fundamental importância que as pessoas leiam, pesquisem e busquem, na internet, a objetividade. “Quando se fala em Memóriabilia se vai automaticamente para a Museologia que tem, hoje, outros alcances e que não pode ser confundido com caridade ou voluntariado, pois é uma atividade econômica, pois cobra-se para visitação e sua preservação”.
Conforme ela, Museologia define-se por museus públicos, privados, acervos privados, casas de memória, casas de cultura, polos culturais, bibliotecas, casas abandonadas, traçado das cidades, mosaicos, arquitetura, monumentos, obras de arte, espaços, moinhos, memoriais, santuários, locais de devoção, ruínas cascatas, parques, além de outras identificações específicas e pessoas fontes, aquelas com conhecimento específico sobre determinados temas e pontos da história.
Museus
“Museus são locais para conservar e expor objetos de grande valor artístico, histórico e humanístico. Serve para a educação, estudo e de sentimento prazeroso. Quantas pessoas acabam viajando para locais abandonados, mas que possuem um grande valor histórico. Em nossa região sempre tivemos a figura de Luiz Antônio Patruco que era um grande amigo de José Albano Volkmer”.
“Se queremos, podemos”
Vanda destaca o momento da queda da escola para que se possa juntar dois ingredientes, a museologia e a Memóriabilia, pois garante que há a possibilidade de se dar o primeiro passo. “Se queremos, podemos, e na próxima votação da Consulta Popular existe um item que fala sobre a cultura que é a implantação de um sistema sustentável e integrado de museus da região do Alto Uruguai como patrimônio material e imaterial, o que poderá atrair muitos visitantes que não vem até nós para buscar excessos, mas sim referências da história e das pessoas, o que define o sentido humanístico da museologia”.
Para que o Castelinho não tenha o mesmo destino, Vanda destacou a necessidade para fazer o que deve ser feito. “Ele não pode permanecer fechado, tem que abrir e ter vida, e isto significa janelas e portas abertas, gente trabalhando, circulando. Se olharmos para o Rio Grande do Sul, vamos ver que somente Erechim tem um patrimônio como o Castelinho”, finaliza.