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“Jamais! Nem por um segundo pensei em sair de Israel”

Erechinense Gabriela Szuchman relata a situação em Tel Aviv após 120 dias da guerra entre Israel e o Grupo Hamas

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Por Carlos Silveira
Foto Arquivo pessoal

         A guerra do Oriente Médio, entre Israel e o grupo terrorista Hamas, igual a guerra da Ucrânia e Rússia, marcaram significativamente o ano de 2023 e se acentuam neste ano sem nenhuma perspectiva de um cessar fogo ou entendimento em ambos os conflitos. O número de mortes aumenta a cada dia e a tensão com relação a libertação dos israelitas, no caso do Oriente Médio, nas mãos do grupo Hamas ainda é uma incógnita.

         Desde que o grupo Hamas realizou um ataque terrorista em Israel no dia 07 de outubro de 2023, o que causou a morte de milhares de pessoas e o sequestro de outras tantas, o mundo convive com esta tensão vivenciada no Oriente Médio, rezando para que mais países não entrem no conflito, o que aumentaria ainda mais o número de baixas e a destruição entre os dois lados. 

Israel tem um dos melhores serviços secretos do mundo, que é o Mossad (Agência de Inteligência Nacional de Israel), e aparentemente não conseguiu antever os ataques, que pela complexidade, certamente, foi planejado e orquestrado por muito tempo, afirmam especialistas do mundo inteiro.

Contexto histórico

 A disputa pela região da Antiga Palestina Britânica entre muçulmanos e judeus, conforme historiadores e analistas políticos, remete a um antepassado político e religioso. O território é sagrado para as duas crenças. Jerusalém ficaria sob controle internacional da ONU. O Plano foi aceito pelos líderes judeus, mas rejeitado pelos árabes e a ideia nunca foi implementada. Apesar disso, foi declarada a criação do Estado de Israel, em 1948, sem uma solução pacífica.

Relato de uma erechinense

 Dentro deste clima há de se analisar como é viver neste território, viver a tensão do dia a dia e conviver com perdas e esperanças de que de uma hora para outro tudo vai se acalmar. Para tanto, depois de quatro meses do início do conflito procuramos, novamente, em Tel Aviv, Israel, a erechinense Gabriela Szuchman, 29, filha de Olinda Frare e Saul Szuchman (in memorian).

Gabriela mudou para Israel aos 14 anos para fazer o ensino médio e entre idas e vindas, está há 10 anos vivendo em Israel. “Fazem dois anos que decidi empreender e abrir um bar na vizinhança mais linda de Tel Aviv – em Florentin, o bar se chama Hamashbir tem capacidade para 500 pessoas e é meu orgulho todos os dias. Também trabalho há mais ou menos 7 anos como Operations Manager em uma empresa de Alta Tecnologia Israelense a IBI-Tech”.  

BD: Depois de meses de conflito, como é o dia a dia na capital e no resto do país?

“Estamos no quarto mês de guerra no momento, a vida, por necessidade mental, financeira e social, teve que continuar seguindo. Vivemos muitos conflitos internos na questão de que forma seria mais sensivel continuar. Porém pelo o nosso povo, pelo o nosso país, nós precisamos seguir vivendo e fazendo com que as coisas no país continuem seguindo em frente. E apenas podemos seguir vivendo pois temos um exército cheio de pessoas maravilhosas que estão nos cuidando que possamos continuar com nossas vidas aqui fora.

 A maioria dos negócios já voltaram a funcionar, várias empresas aéreas voltaram a voar para Israel, a vida noturna está ativa – Seguimos com cuidado, com sensibilidade, porém tenho certeza que dessa forma é o melhor que podemos fazer”.

BD: O que mudou com relação a prevenção e a possibilidade de ser alvo de algum bombardeiro?

 “Acredito que na mesma medida desde o início da Guerra. Não temos como evitar ou nos prevenir com antecedência, apenas ser responsáveis em cada localização que estamos, saber onde tem o abrigo mais seguro por perto. Eu pessoalmente mudei de apartamento assim que a guerra começou exatamente pela razão que precisava morar em um lugar onde pudesse chegar em um abrigo em menos de 1 minuto. Porém estamos correndo risco que possam haver ataques a todo o momento”.

BD: Como a população de Israel vê o recrutamento dos jovens para a guerra, qual é a aflição das famílias? Há um orgulho pelo fato de estar à frente lutando pelo seu país?

 “Temos muito orgulho do nosso exército, dos nossos soldados, do sistema de defesa de Israel. A população se doa e dá total apoio aos nossos soldados, eles recebem muita solidariedade e muito amor do nosso povo. O sentimento geral é que nesse momento, se pudéssemos, todo o país estaria agora no exército. Sem dúvidas os pais e familiares de soldados vivem com aflição todos os dias, eu vivo aflita cada dia que não recebo resposta de algum amigo que está na batalha – mas temos que rezar e acreditar que todos voltarão salvos para casa, somos agradecidos eternamente por nossos heróis que estão dando a vida para cuidar da gente”.

BD: Tem amigos na linha de frente?

  “Muitos, muitos amigos próximos mesmo – também 12 de meus empregados com menos de 25 anos de idade estão lá. Difícil nessa fase ter um amigo que não esteja na linha de frente. Meu coração está com eles o tempo todo, e torcendo para que eles voltem para casa em paz”.

BD: Qual é o efeito psicológico deste conflito entre a população, quais os efeitos imediatos e a longo prazo?

 “Vivemos um carrosel de emoções todos os dias. Muito medo, muita desconfiança, falta do sentimento de segurança. Misturado com sentimento de resiliência, seguir firme, cuidar do próximo. Sabemos que o país inteiro passou por um trauma marcante e não vai ser fácil nos curarmos disso. A saúde mental durante este conflito foi um assunto muito abordado, então sim sentimos apoio do governo e da população para receber tratamento”.

BD: Você tem algum amigo refém do Hamas? e você vê, por parte do Governo, alguma solução a curto prazo?

 “Tinha a minha amiga do ensino médio Ilana, ela foi libertada durante o segundo acordo. Israel é um país pequeno, pode não ser um amigo próximo meu que está lá como refém agora, mas é amigo do meu amigo, é a sobrinha do meu vizinho, é o primo do meu empregado, ainda é muito próximo.

 Todo o país está em grande mobilização para manifestar que precisamos de um acordo urgente para trazer todos os reféns para a casa – mas, não temos repostas, tampouco os familiares dos reféns sabem o que vai passar. Já passaram mais de 100 dias que nossas crianças, mulheres, homens e o nosso povo está vivendo um pesadelo nas mãos do grupo terrorista Hamas, estamos ficando sem tempo e precisamos trazer todos eles para a casa agora”.

BD: Brasil, não pensou ou pensa em voltar para casa e ficar distante de tudo?

 “Jamais! Nem por um segundo pensei em sair de Israel. Isso seria contra todos os meus princípios. Jamais abandonaria o meu país e o meu povo. Israel é o país que a mais de 10 anos realiza os meus sonhos diariamente, onde construí uma vida linda e vivo dentro da melhor comunidade que poderia ter.

 Sabia que estando fisicamente em Israel eu poderia contribuir muito mais do que estando longe – e foi o que fiz, meu país precisava de mim. Desde o primeiro dia de guerra, me doei e coloquei o meu bar 100% para preparar pelo menos 800 pratos de comida quente todos os dias para enviar para os soldados, para famílias desabrigadas e para aqueles que precisam. Durante os primeiros dois meses de guerra me dediquei apenas para fazer trabalhos voluntários que pudessem ajudar. Cada um nesse país contribuiu e se solidarizou para ajudar o próximo, isso mostra a nossa resiliência, a nossa união. O povo de Israel me emociona todos os dias, Israel me emociona, e tenho orgulho em fazer parte disso”.  

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