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Região

Os últimos ferreiros e a arte de forjar

Há mais de 60 anos, Alcides Garbo e Declavi Beltrame dominam a arte em São João da Urtiga

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A Ferraria é uma das profissões mais antigas do mundo. Ser ferreiro atualmente é uma profissão muito
Por Taiane do Carmo
Foto Djone Bald

Uma profissão milenária e uma das mais antigas do mundo: a arte de ser ferreiro. Mesmo sendo uma profissão rara e em alguns locais extinta, ainda existem aqueles que se dedicam e desempenham o trabalho com muito profissionalismo e amor.

Em São João da Urtiga conhecemos a história dos dois últimos ferreiros da cidade, seu Alcides Garbo e Declavi Beltrame – ferreiros há mais de 60 anos e que possuem uma grande trajetória na profissão.

Garbo e Garbo

Fundada em 1962 a ferraria Garbo e Garbo Ltda, iniciou os trabalhos por meio de Alcides, que na época começou a empresa em parceria com um sócio. Ele conta que o serviço foi aprendido com o tempo. “Antigamente não existia a opção de estudar em nossa região, então onde tinha trabalho pegávamos como profissão, e foi assim que comecei aprendendo em cima dos erros dos outros”, conta.

Atualmente trabalham com ele seu filho Dircimar e um colaborador. Ele conta que no início os serviços eram mais modestos e com poucos trabalhos. Hoje a ferraria está mais moderna e é referência na região, realizando serviços na área de mecânica, torno, linha de solda, recuperação de máquinas agrícolas e utensílios de ferro.  “Fazemos muitos trabalhos sofisticados, mas também mantemos os antigos, pois ainda é um serviço procurado, nem tudo se consegue comprar, alguns precisam ser feitos. Quando conseguimos resolver problemas que outras empresas não conseguem, é muito gratificante pois gostamos muito do que fazemos”, afirma Dircimar.

Profissão de geração

Ele, que cresceu em meio a ferraria adquiriu o gosto pela profissão por exemplo do pai. “Sou o único filho homem da família e minha infância toda foi aqui dentro, com quatro anos de idade nossa brincadeira era apertar parafuso, era o que o pai nos ensinava. Quando chegou a hora de decidir o que faria da vida decidi ficar aqui e então o pai investiu na ferraria”, relembra.

Hoje os equipamentos de trabalho são outros, a família usa máscara moderna, óculos e ainda um avental com amianto para conter o calor e a radiação. “Para mim ter uma idade avançada e ainda trabalhar é uma novidade, pois 50, 60, 70 e 80 anos foi somente um patamar, não mudei nada no meu trabalho, nas minhas horas, sou útil igual quando tinha cinquenta anos”, declara Alcides.

Debeltrame

Já a ferraria Debeltrame, foi fundada por Declavi e seu irmão Moacir, que começaram a empresa em 1969. Na época faziam carrocerias, hoje com 84 anos de idade, seu Declavi conta como tudo começou. “Antigamente fazíamos carrocerias, enxadas e ferramentas. Agora os trabalhos são diferentes, compramos as ferramentas, reformamos e vendemos. É uma profissão muito rara hoje em dia, são poucos lugares que ainda se tem um ferreiro”, afirma.

Depois da partida de Moacir, o trabalho continuou junto com seu sobrinho Edimilson, filho dele, que está até hoje na ferraria realizando os serviços. “Agora os trabalhos são realizados por mim e meu sobrinho. Há anos não existiam muitas fábricas, tudo era feito no ‘braço’ e precisávamos trabalhar, forjar e moldar metais, principalmente o ferro”, conta Declavi.

Novos materiais

No local, atualmente são feitos marco de porta, caixinhas para abelha mirim, e madeiras para diferentes tipos de ferramentas. Todo o trabalho é realizado com máquinas específicas. 

Os dois ferreiros afirmam que vão continuar trabalhando até que a vida permita, inclusive esta, é a recomendação dos médicos. Uma das relíquias que seu Alcides guarda com muito carinho é uma máscara de ferro, usada para soldar que existe há mais de 60 anos e seu Declavi ainda possui a maioria das ferramentas que utilizava quando a empresa iniciou.

Fazendo história

Hoje, os ferreiros da cidade, com décadas de história, relatam, que o sentimento de continuar uma profissão milenária e fazer história na cidade é de satisfação. “Recebemos muitos trabalhos difíceis, quando há um trabalho muito específico, as mecânicas da cidade trazem para nós e estudamos o problema juntos, às vezes até deixamos para resolver no outro dia, mas nunca deixamos de resolver e isso é um sentimento sem explicação”, destaca Alcides. “Não tivemos estudo nenhum, mas conseguimos criar três filhos e dar estudos para eles, sou muito realizado com minha profissão e isso é gratificante”, conclui Declavi.

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