Cem dias de testes, trabalho intenso e várias combinações para chegar em um resultado perfeito. O amarelo do queijo chamado Bendito se misturou com a mesma cor da medalha de ouro recebida no 3º Concurso Mundial de Queijos do Brasil 2024. O produto exclusivo e autoral teve a iniciativa de Sandra Lerin e sua família, do Sítio Esperança Produtos Autorais, localizado no interior de Barão de Cotegipe.
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Além da premiação máxima, Sandra trouxe para casa a medalha de bronze com o tradicional queijo Colonial, que esteve entre os mais de dois mil produtos avaliados pelos jurados internacionais, e o título de vice-campeã do concurso de melhor queijeiro do Brasil. “Foi uma experiência que trouxe ainda mais clareza para nosso propósito de criar queijos autorais e únicos”, descreve a empresária.
Apoio constante
Durante a caminhada até receber os prêmios, Sandra teve um apoio incondicional. “Contei com um time incrível nessa jornada, que foi a Martina Sgarbi do Queijo Martina de São Paulo e a Beth Tonel, engenheira química e responsável pelo controle de qualidade do Grupo BRQ. Além de meu marido, Laércio Lerin e minha filha, Maria Olimpia, que nunca largaram a minha mão diante dos desafios que foi criar esses queijos para o concurso”.
Queijos autorais
Ao todo foram produzidos cinco queijos para o concurso. Bendito foi o primeiro a ser feito em janeiro, o Único em fevereiro e o Liberdade, Igualdade e Humanidade em março. “Levar a tradição gaúcha em um queijo desenvolvido com erva-mate foi algo que eu nem sei descrever. Este queijo, nomeado de Liberdade, arrancou os maiores elogios dos jurados”, afirmou a queijeira.
Bendito
De acordo com Sandra, “o Bendito se diferencia pela adição de cachaça e por ter uma tecnologia de produção que permite que ele fique adocicado”.
Para Elisabete Tonel, química industrial e especialista em Segurança de Alimentos, que participou do processo de criação dos queijos, foi um trabalho que exigiu muitos testes, avaliações e recomeços. “Desde o dia que ela me chamou eu falei: Não sei como e nem o que vamos fazer, mas tenho certeza que vamos dar nosso melhor, elevar o nível do Concurso e fazer história, mesmo sem patrocinadores, investidores, pois temos criatividade, dedicação, comprometimento e principalmente, amor pelo nosso trabalho”.
Criatividade
Com três anos de atuação, o Sítio Esperança produz em média 500kg de queijo por mês. “Desde que iniciei a queijaria, meu sonho era produzir deixando minha criatividade fluir. As barreiras são muitas para conseguir legalizar um queijo autoral, mas com força de vontade e persistência conseguimos”, relatou Sandra.
Quem também fez parte da equipe na produção dos produtos autorais foi a queijeira de São Paulo, Martina Sgarbi, com um trabalho em conjunto, as mulheres puderam obter resultados excelentes. “A energia das três bateu bastante e sempre conversando online, discutindo como iria fazer, como seria o processo e cada uma falando de uma técnica para a outra saber. Foi uma troca de informações muito legal”.
Surpresa
Competindo com participantes de todo o Brasil e tendo seus queijos em paladares de expertises do ramo lácteo, a representante do Alto Uruguai não se abalou. Segundo Elisabete, a ideia era curtir a “escalada da montanha”, pois estavam ciente do alto nível dos competidores e de seus investidores. “Nós fomos com nossos recursos, mas quizá com o que os demais não tinham, uma equipe unida e muito amor e sim, surpreendemos a todos. O mundo sabe o que viu, sentiu, aplaudiu e provou”, narrou.
Raízes culturais
“Nosso ouro é branco/Nosso diamante é amarelo/Nascido lá no campo/Vai para a mesa de tão belo”. Com esses versos, “colocamos o teatro B32 para chorar com uma declamação a moda da nossa tradição gaúcha”, disse Sandra sobre o momento de comemoração da pós-vitória.
Fazendo jus à cultura do estado, os queijos coloridos apresentados no concurso pelo Sítio Esperança representaram a bandeira do Rio Grande do Sul. “A música que desde o primeiro encontro foi nosso 'tema da vitória' e também da realidade do dia a dia, foi “Tudo vem do Campo”, do Chiquito e Bordoneio”, expôs Elisabete.
Obra de arte
A química industrial não segura a empolgação da conquista. “Ver a plateia e os jurados de pé aplaudindo e emocionados com nosso trabalho não tem preço e não é um 'troféu' que representa o que sentimos. Quando os jurados de outros países enfatizaram o potencial que temos, inclusive para o Mundial e que 'o futuro será feminino ou ele não existirá’. A resposta da prova sensorial, após provar os queijos: Uaaaaaaaau! E olhando para nossa mesa: Isso é uma obra de arte! Tivemos a certeza que o melhor foi feito e com êxito”.
Mulheres apaixonadas por criar queijos dedicaram seus esforços em algo diferente e único. “O que move nós três, eu, a Beth e a Sandra é o queijo, nosso amor é por esse produto de fermentação natural e que a gente percebeu que a capacidade de transformar ele é muito grande, de fazer produtos diferentes e sair de nossa zona de conforto”, mencionou Martina.
Mundial de Queijos
O 3º Mundial de Queijos do Brasil 2024 foi realizado entre os dias 11 e 14 de abril, no teatro B32, em São Paulo. O evento foi promovido pela SerTãoBras, associação de produtores de queijos artesanais criada há 16 anos, com mais de 250 associados, a maioria da agricultura familiar em 17 Estados do Brasil.
O evento foi em parceria com a Guilde Internationale des Fromagers, uma das maiores associações de queijeiros do mundo, presente em mais de 40 países. A competição acontece a cada dois anos e inclui três concursos nacionais: Melhor Queijeiro do Brasil, Melhor Queijista do Brasil e Melhor Fondue do Brasil. E um internacional, o Concurso de Queijos e Produtos Lácteos.