O bom filho a casa torna. Um mero ditado popular que Marivone Pieri Maciel, 54 anos, demonstra estar além do seu significado habitual. A dona de casa voltou a morar junto com a mãe, Matilde Pozzer Pieri, 88 anos, para cuidar dela e fazer os serviços de rotina. Após a morte do pai, em 2023, Marivone deixou o marido para dedicar o tempo integral para sua mãe.
Desejo de estar perto
Marivone cresceu em uma família de 14 irmãos, na cidade de Machadinho, e desde cedo aprendeu a fazer as coisas sozinhas. Sempre que podia, tentava ficar junto da família. Depois de casada, foi morar para Viamão, mas a distância não impedia a machadinhense, de tempo em tempo, rever os pais.
“Quando eu me casei, eles eram muito contra, principalmente o pai, mas eu quis e insisti. Cada um tem a sua história e tem que passar por ela. Quando eu desisti do casamento, estava grávida, me obriguei a casar e fui viver com meu marido. Depois de um ano e um mês, após minha filha nascer, fomos embora daqui. Porém, a cada quatro meses eu vinha passear com ela, depois tive outro filho”, conta ela.
Saudade
Após cinco anos morando na região metropolitana, a saudade venceu Marivone que voltou para a cidade natal para ficar perto dos pais e irmãos. “Dia sim, dia não, eu estava aqui com eles. Eu ajudava, fazia algum serviço e na medida que eles foram ficando idosos, eu vinha mais vezes”.
Ajuda
Ao contrário dos irmãos, Marivone tinha comércio próprio e tinha a possibilidade de fechar as portas do estabelecimento e vir em qualquer horário dar atenção aos pais. “Fazia o serviço mais pesado, o pai cozinhava e a mãe, com muita dor nos braços e pernas, ainda tirava o leite para fazer os queijos, até que ela desistiu e não conseguiu mais”.
Papo de mãe e filha
Apesar das brigas diárias entre mãe e filha, Marivone está sempre auxiliando Matilde no que ela precisa, já que, por conta da idade, alguns movimentos corporais estão limitados. “Nós temos nossas peleias, porque é normal. Ela não admite não conseguir fazer o que fazia. Ela sempre trabalhou”.
Trabalhadora
Na época em que vivia em Viamão e vinha visitar a mãe, Marivone voltava com a mala cheia de banha, salame, sabão, chimia e outros produtos caseiros feitos por Matilde. “Como agora não pode fazer, ela fica nervosa”.
Apoio
A mãe nunca deixou a filha de lado. “Sempre me ajudou em coisas que precisei, que meu marido, às vezes, não percebia. Ela dizia: ‘Faça, a mãe te ajuda’”.
Marivone tem um casal de filhos, como os dois já são adultos, toda a atenção está voltada para Matilde.
Os irmãos aceitaram que a dona de casa se mudasse por completo para a casa da mãe. Para a filha, cuidar de quem a criou é uma retribuição do que já recebeu dela. “Ela é minha mãe, porque eu vou ter que ficar aguentando marido que não me deu valor se eu posso ficar com a minha mãe?”, desabafa.
Honestidade
Uma das lições aprendidas com Matilde foi a honestidade. Desde criança, Marivone já ajudava nos afazeres da casa. “Cuidava dos meus irmãos mais novos enquanto ela ia trabalhar. Não tínhamos aquele tempo de ficar conversando, então nos virávamos sozinhos. Com nove anos já saí trabalhar fora. Tinha muita criança ao redor para dar atenção”.
Carinho à moda antiga
O carinho esteve sempre presente entre mãe e filha, mas a família nunca foi de demonstrar o que sentia. “Somos descendentes de italiano. Somos amorosos, mas todos criados na base do grito. Então não tem aquele jeito carinhoso de falar”.
Sonhos intrigantes
O que intriga Marivone são os sonhos que ela tinha com a mãe. Em todos, Matilde estava brigando com ela para defender os outros irmãos. “Sempre, todos os sonhos com a mãe eram assim. E agora eu estou aqui cuidando dela e continuamos brigando”, soltou uma gargalhada.
Afeto
O cuidado, atenção e carinho são sinônimos do amor transferido da filha para a mãe. Estar próxima de quem a criou e dedicou tempo na educação e proteção é parte de um reconhecimento que Marivone tenta devolver o pouco do que recebeu. “Eu tenho que agradecer, porque na primeira ‘rusga’ que teve, ela bem que poderia ter dito: ‘Vai, não te quero, você veio aqui só pra me incomodar’. Eu não tenho como deixar ela sozinha aqui. Tenho que agradecer por ter me acolhido de volta na casa e por tudo que me ensinou”.