Estamos vivendo tempos intrigantes como humanidade, com muitos novos eventos surgindo. Um dos quais me deparei diversas vezes foi "a solidão do homem", um fenômeno de isolamento social real e uma vida cronicamente online, analisado por diversos estudiosos da área humana. Esse fenômeno disparou durante a pandemia, muito inspirado por influencers e coaches de namoro, que ensinam a como ser "homem", ser "alfa" e deixar de ser "beta". Conceitos que não existiam na minha adolescência, mas que criaram raízes nas gerações mais novas.
Muitos homens estão ouvindo de outros homens o que uma mulher quer em um relacionamento, como o homem deve ser para conseguir parceiras... E, geralmente, isso se resume a ser alto, estar em forma, ser rico e nunca conversar ou ouvir uma mulher, caso não seja para o ato sexual. Primeiramente, é óbvio que estar em forma e bem financeiramente vai chamar a atenção e vai te destacar. No entanto, essas não são as únicas maneiras, e nem as mais garantidas; uma personalidade agradável e humor são mais importantes do que muitos imaginam. Não está tudo perdido.
Entretanto, não é isso o que dizem os gurus que esses jovens consomem, o que gerou uma insegurança recorde entre os homens, muitos dos quais nunca tiveram amizades femininas e, portanto, não sabem conversar com mulheres, a não ser por meio das cantadas desgastadas ensinadas em cursos pagos. O que raramente surtirá o efeito desejado. Além de ensinarem que não devem ser amigos de mulheres — isso é coisa de "beta na friendzone", o tal "coitado rejeitado" — também pregam que os homens precisam prover e nunca aceitar mulheres que ganhem bem. Eles não devem se relacionar com mulheres que saem, bebem, leem demais, gostam de estilos musicais diferentes ou jogam videogame. Mulheres que vestem roupas curtas... Sobra quem?
Convenhamos que a minoria dos homens é rica. Boa parte não é tão alto assim, e uma montanha de músculos não é fácil de conquistar para qualquer metabolismo. Então, uma grande parte desse público se vê como indigno de amor, achando que, se tentar, será rejeitado e humilhado publicamente. Se conseguir namorar, acredita que será traído ou trocado por um "homem de verdade". Com esse pensamento de que nunca serão vistos como bons parceiros pelas mulheres, baseado em opiniões unicamente masculinas (vejam aqui a importância de ter amigas), começam a criar rancor. Destilam ódio gratuitamente em qualquer mulher que ousar se sentir bem online. Muitos se escondem em perfis falsos para liberar suas frustrações, e o seu ódio cimenta seu isolamento e incapacidade de, espontaneamente conversar e de maneira natural, se conectar com uma parceira.
Não existe um segredo que destravara o interesse de qualquer mulher, diferente do que alega o vídeo no YouTube. Cada ser humano é diferente. Pessoas gostam de conversar sobre o que as interessa, fazer o que as agrada. Não posso lhes dizer o que mais agradam as mulheres, mas todos os seres humanos gostam de pessoas genuínas, confiantes e agradáveis.
O que preocupa, além dessa solidão e isolamento, é o impacto disso na saúde. Já falei aqui antes como viver sozinho traz malefícios equivalentes a fumar uma carteira de cigarro por dia., mas também é importante dizer o quanto isso reforça o perigo para as mulheres. Não sabemos onde esse ressentimento implantado hoje pode nos levar, quem dirá daqui a alguns anos. Podemos, em breve, enfrentar um grande aumento na violência contra as mulheres, se nada mudar. Espero que mude.