A doação de sangue é um processo meticuloso que envolve várias etapas, garantindo que o material coletado esteja seguro e pronto para salvar vidas. O Banco de Sangue de Erechim, que atende hospitais da cidade e da região, segue rigorosos procedimentos que vão desde o agendamento da doação até a liberação dos hemocomponentes para transfusão.
O agendamento
O processo começa com o agendamento, que pode ser feito de várias maneiras: por telefone, WhatsApp ou presencialmente no próprio banco de sangue. O banco recebe entre 20 e 25 doações por manhã, um número significativo considerando a alta demanda pela transfusão de sangue.
"É um quantitativo razoavelmente grande, devido à constante necessidade de sangue nos hospitais", explica Renato Kolcenty, enfermeiro responsável técnico do Banco de Sangue de Erechim.
Recepção e triagem
Ao chegar ao banco de sangue, o candidato à doação passa por uma série de verificações. A primeira etapa é o cadastro, que exige a apresentação de documentos válidos, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Sem a documentação, o candidato não pode prosseguir.
Em seguida, o doador passa pela triagem clínica e hematológica, composta por um questionamento sobre o histórico de saúde pregressa do candidato a doação principalmente nos últimos 12 meses. São verificados sinais vitais como pressão arterial, batimentos cardíacos, temperatura e saturação de oxigênio além de serem verificados os índices hematológicos para efetivar a doação. Algumas condições médicas, como cirurgias recentes, jejum inadequado, procedimentos invasivos como endoscopia e colonoscopia, podem ser um impeditivo temporário a doação. Há também impedimentos definitivos que serão avaliados durante a triagem do candidato a doação. Se o candidato passar por todas as etapas sem restrições, ele pode seguir para a coleta.
A doação
A coleta propriamente dita dura de 12 a 15 minutos e é realizada com segurança e eficiência. A quantidade retirada não ultrapassa 450 ml, o que corresponde aproximadamente a cerca de 10% do peso corporal do doador. A quantidade de sangue retirada varia conforme o peso do doador, sendo que o peso mínimo para uma doação é de 50kg.
Após a doação, o doador passa por um período de observação de 8 a 10 minutos para garantir que não haja intercorrências na saúde clinica e física do doador, como alterações na pressão arterial. Em seguida, ele é liberado para o lanche e hidratação. A recomendação é que trabalhadores de atividades de risco, como motoristas e profissionais em altura, evitem retornar ao trabalho no mesmo dia.
O ciclo do sangue
Após a coleta, a doação de sangue segue para a sala de imunohematologia, onde é classificado e testado. Essa etapa envolve o uso de tecnologias de ponta para garantir que o sangue seja seguro para transfusão. Amostras de cada doação são armazenadas por um período de até três anos, permitindo reavaliações caso surjam problemas de saúde após a transfusão.
O sangue é então processado em uma máquina especializada, que separa os diferentes hemocomponentes: concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma fresco congelado e crioprecipitado. "Todo o candidato à doação consegue ajudar no mínimo três pessoas", destaca Renato.
A liberação e transfusão
Cada hemocomponente tem uma validade específica. Por exemplo, o concentrado de hemácias pode ser utilizado por até 42 dias, enquanto as plaquetas têm apenas 5 dias de validade. O plasma fresco congelado e o crioprecipitado, por sua vez, tem validade de um ano. Após passar pelos testes de compatibilidade e pela quarentena necessária, os componentes estão prontos para serem distribuídos para os hospitais atendidos pelo banco.
Com uma rede de atendimento que abrange 9 hospitais, o Banco de Sangue de Erechim presta serviços para mais de 350 mil pessoas na região, com uma média de 10 mil hemocomponentes fornecidos anualmente.
A importância da regularidade na doação
A cada nova doação, os doadores devem respeitar intervalos específicos: homens devem esperar três meses, enquanto mulheres devem aguardar quatro meses. Além disso, tanto homens quanto mulheres não podem realizar mais do que quatro doações por ano.
"É importante cuidar da saúde dos doadores para que possam continuar a ajudar", enfatiza Renato.
A doação de sangue, apesar de ser um processo longo e complexo, é uma ação essencial para salvar vidas.
Depoimentos de doadores
O preparador de goleiros do Atlântico, Leonardo Felipe Nunes, de 24 anos, já fez sua doação de sangue pela segunda vez e pretende continuar com esse hábito, inspirado por seu pai, também doador. Para ele, ajudar é mais gratificante do que ser ajudado. Por outro lado, o pintor Aldecir Amauri Zortea começou a doar após sua mãe precisar de transfusão, e desde então tornou a doação um hábito, agendando-a sempre que possível para ajudar mais pessoas.