Fios com texturas diferentes, porosidade e frizz fazem parte da transição capilar. Remover a química do cabelo alisado para o natural exige paciência e autoconhecimento. Para entender melhor esse processo, a redação do Jornal Bom Dia conversou com três mulheres que compartilharam suas experiências.
‘Passei a gostar cada vez mais de mim’
Luísa Fernanda Silva dos Santos, advogada, recorda sua relação com o cabelo desde a infância. Sua mãe costumava fazer tranças e colocar laços em seu cabelo, e ela adorava passar horas sentada durante esse processo. Aos 13 anos, sua mãe cortou seu cabelo, que permaneceu curto até os 15 anos.
Após esse período, Luísa passou a aplicar em casa um “relaxante capilar” à base de guanidina e tioglicolato de amônia. “Passávamos o sábado aplicando, minha mãe, minha irmã e eu. Ainda sinto o cheiro horrível daqueles produtos e a sensação de queimação no couro cabeludo”, lembra Luísa.
Em 2007, Luísa parou de usar progressiva e deixou o cabelo crescer, mantendo a raiz crespa e o cabelo alisado. Ela experimentou diversas técnicas para tentar se adaptar ao cabelo misto. No entanto, em 2016, decidiu fazer o big chop e eliminar toda a parte química. “Lembro com emoção desse momento. Chorei muito, me sentia feia e fiquei alguns dias de mal com o espelho. Depois, fui me adaptando e, conforme o cabelo foi crescendo, passei a gostar cada vez mais de mim”, compartilha.
Em novembro de 2016, ela e sua irmã viajaram para Taubaté, São Paulo, para fazer um curso com uma especialista em cabelos crespos, onde aprenderam sobre cuidados e peculiaridades dos fios crespos, como hidratação, umectação e higienização. “Passei a entender a minha curvatura (sou tipo 4c) e, hoje, já não sei viver sem o meu afro”, revela a advogada.
‘Vale a pena conhecer seu cabelo’
Joanna Lorenzi, secretária, começou a alisar o cabelo aos 10 anos. Ela optou passar pela transição em 2018, inspirada por blogueiras cacheadas. Sempre teve um relacionamento conturbado com o meu cabelo. “Meu relacionamento com meu cabelo sempre foi conturbado, antes mesmo da transição, pois o alisamento muitas vezes não pegava. Depois da transição continua conturbado, ainda estou aprendendo a lidar e conhecer ele”, relata.
Embora ainda esteja aprendendo a lidar com os cachos, Joanna reconhece a importância do processo. “A minha sugestão para quem está no processo é: não desista, pois no fim vale a pena conhecer seu cabelo de verdade. Se ajuda com autoestima, use as tranças, boxbraids ou penteados para ajudar”, compartilha Joana.
‘Cada cabelo é único’
Daniele Schafer, mãe, iniciou o alisamento aos 15 anos. Criada pela avó, uma mulher branca, cresceu sem aprender a cuidar do cabelo afro. “Eu me sentia descabelada, mal arrumada. Quando comecei a alisar, me preferia assim. Mas o custo e o esforço eram enormes. Durante a gestação, precisei parar de alisar e, depois, decidi não voltar mais”, explica Daniele.
A transição de Daniele começou em 2015 e envolveu o corte gradual até 2018, quando removeu toda a química. “Foi um processo de paciência e aceitação. Hoje, amo meu cabelo crespo, mas isso só foi possível porque passei a me reconhecer nele. A maternidade me ajudou a ver a necessidade de ser mais natural e verdadeira comigo mesma”, ressalta.
Para Daniele, paciência e conhecimento são fundamentais. “Cada cabelo é único. Teste produtos e busque informações, porque o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Mas, acima de tudo, aceite o processo como um caminho de volta para casa”, destacou.