E se?
Imagine o dia perfeito. Sol, nada de ventos, apenas uma brisa leve a soprar. Nada de núvens, nada de chuvas ou trovoadas. Um belo dia de primavera, nem quente, nem frio. Mas…e se de repente, a energia da tua rua fosse desligada? E se, depois de alguns minutos, você se desse conta de que não foi assim, um desligamento eventual e que o bairro inteiro, a cidade toda e o teu Estado estivesse sem luz? Algo estranho, não? Mas…e se as notícias dessem conta de que o país inteiro está apagado? Entre o deserto de informações e o mar da fake news, temos de nos agarrar em alguma coisa. No quê?
Apagão na Europa
O apagão que ocorreu na Europa nos fez reviver cenas daquele início da Covid. Passadas algumas horas, as pessoas correram aos mercados. Papel higiênico, água mineral e enlatados. Era preciso levar à cabo o tal “kit” de sobrevivência que dias atrás foi recomendado por algumas almas amedrontadas com o apocalipse. Nos bares de Lisboa, turistas bebiam cerveja quente, talvez à espera do fim do mundo. Sem informação alguma, as pessoas assumiram a postura do “salve-se quem puder”. Sabotagem, incêndio, cyberataque? Ninguém tinha explicação. Logo, quem somos nós para dizer que as pessoas não devem ficar assustadas se quem deveria se pronunciar tampouco sabia o que se passava?
O teste
Os europeus vivem dias de medo. Uma espécie de medo latente. Algo que não se manifesta em situações normais. Porém, basta que uma lâmpada de sinaleira queime para logo pensarmos: será que faltou energia novamente? Se foi um teste, uma sabotagem, para avaliar a capacidade de reorganização, deu certo e fomos reprovados, pelo menos na comunicação. O governo, sem alarde, parecia fingir que era só uma falta de energia (uma gripezinha), quando se sabe, foi tudo bem estranho. Ninguém se manifestava. Um prato cheio para os disseminadores de desinformação e de uma população sedenta por informação. O caos só não foi maior porque até a internet parou.
Feridas
O blecaute europeu nos fez reviver o pior da Covid. O individualismo e o “salve-se que puder” foi facilmente visto na invasão dos mercados. À noite, com todos às escuras, a energia foi restabelecida, apesar dos anúncios de que poderia demorar três dias. E nesse mar de incertezas onde reinam as fake news, o tal continente mais desenvolvido do planeta soube o que é viver em um deserto de notícias. Se as rádios seguiam transmitindo, no mais puro serviço social de informação, os jornalistas seguiam atônitos, sem saber o que dizer, sem respostas, inseguros, mostrando toda a fragilidade que uma simples falta de energia é capaz de mostrar.