Gerar significa fazer nascer, desenvolver, formar. Independente de ser de sangue ou de coração, este significado também pode ser aplicado à adoção de crianças e adolescentes. Para que este gesto de amor se concretize, é necessário um ato de coragem e o desejo de formar uma nova família.
Apesar deste anseio, no Brasil, mais de 20 mil crianças esperam por um lar. Mas para que o processo seja concluído é necessário paciência. De acordo com a juíza da Vara da Infância e Juventude do Fórum da Comarca de Erechim, Adria Josiane Müller Gonçalves Atz, a maioria dos adotantes buscam por crianças recém-nascidas e de até três anos. “São poucos que se habilitam para adotar adolescentes. Realizamos um trabalho de conscientização com o Grupo de Apoio à Adoção Pais de Coração (GAA), em alguns momentos, conseguimos fazer com que os casais alterem o perfil”.
Outro fator enfatizado pela juíza é a demora no trâmite legal de adoção, que pode levar anos para ser concluído. Segundo Adria, a espera se deve ao fato da criança ser desvinculada de sua família biológica. “A criança que está em questão de violação de direitos, precisa passar por este processo. Segundo a legislação, o procedimento de destituição precisa estar concluído em 120 dias, mas é impossível”. Outro motivo que leva a essa demora são as tentativas de avaliação impostas pela lei em relação aos pais biológicos. “Por exemplo, se os pais são usuários de drogas, eles são submetidos à avaliação e tratamento. Quando os resultados são negativos, a criança é encaminhada a adoção”.
Em Erechim, atualmente 36 crianças e adolescentes estão abrigados na Associação Beneficente Lar das Crianças, instituição referência para as internações judiciais. Conforme Adria, apenas três adolescentes estão aptos a serem adotados, enquanto isso, as outras crianças passam pelo processo de destituição.
- A adoção salva
Aos 20 anos, Roberta (o nome é fictício a pedido da entrevistada), foi adotada nos primeiros dias de vida. Segundo a jovem, desde a infância ela soube que era filha de coração. “Minha mãe acabou tendo um câncer e precisou passar por uma cirurgia pra a retirada do útero. Quando eu tinha uns cinco anos, ela já falava que era a sua filha de coração. Quando fiz 15 anos, quis saber um pouco mais sobre a minha história e ela me contou”.
O depoimento de Roberta condiz com a frase dita pela juíza Adria. “A mãe que entrega o seu filho para a adoção, tem mais ato de amor do que aquela que deixa sofrer ou passar por várias dificuldades durante a vida, seja por problemas relacionados ao financeiro ou emocional”. Segundo a jovem, a mãe biológica não possuía condições financeiras para criá-la e a adoção acabou sendo realizada. “A adoção salva. Se minha mãe não tivesse me adotado, eu estaria fazendo parte do índice de crianças que esperam por um lar. Provavelmente o carinho e amor que recebo todos os dias, seriam ausentes na minha vida. Tudo é uma questão de aceitação”.
A aceitação sempre fez parte da vida de Roberta. Mas foi durante a adolescência que a jovem sofreu bullying na escola. “As pessoas me trancavam na sala e no banheiro, porque era adotada e as pessoas imaginavam que poderia ter alguma doença. Nunca tive problemas com isso. Sempre agradeci a minha mãe, porque eu recebo um amor inexplicável. Quando somos “rejeitados”, nesse caso isso nos marca, e causa vários problemas de auto-estima. Mas ter uma mãe que me quis, isso cura”.
- Grupo de Apoio à adoção Pais de Coração
De acordo com a presidente Christine Lisiane Bonissoni Biasus, o objetivo do grupo é preparar os adotantes para a etapa de habilitação (fase que antecede a adoção). “Essa fase é carregada de ansiedade, pois os futuros pais precisam lidar com suas incertezas, fantasias, mitos e preconceitos e, em alguns casos elaborar os lutos e perdas decorrentes da situação de esterilidade, quando se trata de casais com essa problemática”.
Neste ano, o GAA iniciou uma atividade em parceria com o Ministério Público, Vara da Infância e Juventude e a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), com o auxilio do curso de Psicologia, um curso prepara os pais para o processo de habilitação. “O número de pessoas em habilitação varia de ano para ano. Neste momento são nove pessoas que estão participando do processo. Até o fim do ano passado, tivemos 73 pessoas habilitadas para a adoção na Comarca de Erechim”, enfatiza Christine.
As reuniões são realizadas mensalmente e são abertas à comunidade, onde são debatidos assuntos como o desenvolvimento infantil, vinculação e adaptação da criança e família após a chegada do filho.
- Quem pode adotar
Adulto maior de 18 anos, desde que a diferença de idade entre o adotante e o adotado seja de, pelo menos, 16 anos e que tenha sido considerado apto à adoção. pode ser solteiro, casado, divorciado, ou viver em união instável.
Documentação necessária
Cópias autenticadas de certidão de nascimento ou de casamento, ou declaração de união instável;
Copias da identidade e do Cadastro de Pessoas Fisicas (CPF);
Comprovante de renda e de domicilio;
Atestados de sanidade mental e física;
Certidão de antecedentes criminais;
Certidão negativa de distribuição cível;
Fotos dos pretendentes.