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Expressão Plural

Muitos outonos, um poema

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Gerson Egas Severo.jpg
Por Gerson Egas Severo
Foto Arquivo pessoal

“Nem a beleza da primavera, nem a do verão, têm tanta graça/ Quanto a que vislumbrei em uma face outonal” – escreveu John Donne em “Elegy IX: The Autumnal”. Nei Lisboa, em “Telhados de Paris”, já nos havia lembrado: “Mas tem no outono uma luz/ Que acaricia essa dureza cor de giz.”. Pois é: o outono tem uma coisa, não tem? É um frio que traz introspecção e mãos no bolso do moletom – o capuz na cabeça. É um vento – “Venta/ ali, se vê/ onde o arvoredo inventa um ballet”. É uma cor – “As cores de abril/ Os ares de anil” (Vinícius de Moraes). É uma... uma coisa.

            Uma coisa inefável, indizível (invisível?), mas a poesia existe para apanhar o que é inapanhável, não é mesmo? Não para fazer um discurso, mas para trazer um nome mínimo, uma proximidade. Deborah Blake, a bruxa, em seu Diário Mágico, evoca um poema de Henry Van Dyke escrito em 1911. Em sua interpretação, o autor captaria o clima instável e os altos e baixos de abril (note-se: é uma autora que vive no hemisfério norte; mesmo assim...). ‘Bora ler esse poema neste feriadão? É o que proponho ao caro leitor/a:

“Minha menina de abril

 

De manhã, ao pé da escada

Atrás dela o sol levanta;

Doces riachos de riso

Nascem de sua garganta;

Sua formosa presença

De dourado tinge o dia;

E sob o sol dessa manhã

O seu nome é Alegria.

 

À penumbra da tardinha

Em um silencioso salão

Lemos antigas baladas;

Cobrindo seus olhos com a mão,

Ela então desaba em pranto,

Dando ao coração leveza;

E à penumbra da tarde

O seu nome é Tristeza.

 

A minha menina de abril,

De sol e tormenta tece

A magia primaveril

E meu desgosto floresce!

Quando os humores se acalmam,

No abraço ela busca calor;

Com dor e em êxtase então

Eu sei que seu nome é Amor.”

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