Os dez feminicídios do fim de semana da Páscoa não são tragédias inesperadas. São consequência de uma epidemia de meninos mimados de idade avançada, criados por uma sociedade que os cultivou desde o berço e os segurou pela mão até aqui.

Meninos que nunca precisaram ajudar em casa porque eram meninos; podiam quebrar coisas e ter surtos porque eram meninos; podiam agredir as meninas de quem gostavam — porque eram meninos.

Enquanto meninas são ensinadas que pirraça não é coisa de menina, que é feio, eles estão livres. Não se comportar nas escolas é normal — “são apenas meninos”. Descontrole e agressividade são vistos como naturais. Assediar colegas é “coisa de moleque”, e, para evitar isso, criam-se regras de vestimenta para as meninas. Afinal, que culpa têm nossos pobres meninos?

As meninas é que têm que aprender como sentar, como se apoiar, como conversar — e que sinais não devem dar para não "atiçar" nossos pobres meninos. Elas precisam se adaptar e se proteger, porque "meninos serão meninos". Não tem o que fazer, dizem.

Agora, esses meninos querem de volta os velhos tempos em que a união de um casal era decidida entre o pai e o pretendente, sem que a vontade da moça fosse considerada. Querem meninas que os amem como são, pois foram ensinados que são especiais — só por serem meninos.

Não querem saber o que interessa às meninas, o que as ofende, o que as incomoda. Elas que os sirvam quando quiserem ser servidos. E que sejam exatamente como eles fantasiaram que seriam.

Não existe sociedade saudável onde um gênero inteiro não é preparado para a frustração. Pode-se dobrar o policiamento, instituir penas de morte — ainda assim, os que nunca ouviram um “não” e nunca foram repreendidos continuarão a matar. Porque acham que é um direito deles. O mundo e tudo o que há nele é um direito deles. Foi isso que papai e mamãe ensinaram.

Os meninos sempre foram o verdadeiro sexo frágil: um fora, e odeiam todo um gênero. Um fim de relacionamento, e querem matar a companheira — e a si mesmos. Que histeria é essa?

Não se cria um homem protegendo-o de tudo. E você não é homem se não consegue lidar com o que sente.

Um soco na parede? Saiba: você falhou como homem.
Odiou uma mulher porque ela não te amou de volta? Você falhou como homem.
Afinal, ninguém é obrigado a te amar.

Quantas mulheres amaram e não foram correspondidas?
E quantas partiram para a violência por causa disso?

Somos a mesma espécie, com as mesmas capacidades. O que muda é a educação, o treino, e isso é terrível para todos os envolvidos.

O mundo é cruel. Ele não se importa com você — até que você crie conexões e se torne importante para alguém.

As pessoas não vão te amar se você não for amável.
Amigos não cairão do céu se você for desagradável.
Riqueza não se materializa sem trabalho e planejamento.

Não há nada de errado em sentir, em sofrer, em chorar...
Mas é inadmissível que algo te incomode e a solução que te venha à cabeça seja cometer um crime — em vez de fazer terapia.

Melhore. O mundo precisa de homens — e não de meninos.
E, pelo amor de Deus, converse com uma mulher ao menos uma vez por semana sem segundas intenções. Melhor ainda: tenha uma amiga.
Você não faz ideia do quanto isso vai facilitar sua vida tão difícil.