Um tema bastante discutido na Feira do Livro, principalmente no bate-papo realizado com a patrona e o homenageado, foi sobre os baixos índices de leitura no Brasil — um assunto extremamente preocupante. É sabido que o hábito da leitura traz diversos benefícios, como a ampliação do vocabulário, o estímulo ao raciocínio e à concentração, além de fomentar a criatividade e o pensamento crítico. Ou seja, o leitor só tem a ganhar.
A questão do uso excessivo de celulares, especialmente das redes sociais, foi uma das problemáticas apontadas durante a conversa — e com a qual concordo plenamente. Estamos cada vez mais dispersos diante da quantidade de aplicativos disponíveis nas telas, nas quais acabamos mergulhando por horas e desperdiçando um tempo precioso em atividades que poderiam ser muito mais proveitosas, como a leitura.
Lúcia Balvedi Pagliosa, membro da Academia Erechinense de Letras, foi bastante assertiva ao destacar o exemplo que os adultos precisam dar aos mais jovens para incentivar o hábito de ler, ressaltando que o problema não afeta apenas os mais novos, mas todas as faixas etárias.
Entre as pesquisas que consultei, encontrei pontos que devem ser considerados para melhorar esses indicadores: Como o estímulo à leitura desde a infância — não apenas em casa, mas também na escola —, a oferta de ambientes nos quais as crianças possam usufruir da leitura, além de atividades de mediação que construam uma ponte entre elas e as histórias. A diversificação de temas e formatos também é fundamental, incluindo não apenas livros impressos, mas também meios digitais, como os e-books, afinal, vivemos em uma geração cada vez mais conectada. É um esforço coletivo, que deve ser assumido por famílias, escolas, poder público e comunidades, para que possamos, juntos, formar novos leitores.
Pensamos muito nas crianças, mas e nós? Qual é o nosso papel diante desses números? Quantos livros estamos lendo? Uma questão frequentemente mencionada pelos entrevistados nas pesquisas é a falta de tempo — compreensível, diante de tantas exigências da rotina, como trabalho, responsabilidades financeiras e domésticas, cuidados com a saúde física e mental, socialização... A lista é longa, e ser adulto exige muito do nosso tempo. Mas também esbarramos em outra reflexão: como estamos administrando esse tempo? Para alguns, talvez a solução esteja em reservar um momento para a leitura e para os demais afazeres — o que é ótimo. Mas e as outras camadas da sociedade, que de fato não dispõem desse tempo nem mesmo para o lazer? É uma questão complexa e desafiadora.
A verdade é que, para melhorar esses números — que não são pequenos —, conforme mostra a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em abril de 2024, que aponta a perda de cerca de 7 milhões de leitores em quatro anos, é necessário um trabalho coletivo, e não apenas individual.
A abertura da 26ª Feira do Livro de Erechim me deixou muito feliz com a quantidade de visitantes — mostra que nem tudo está perdido, pelo menos aqui, onde vivo atualmente. Quero olhar com otimismo para o futuro e acreditar que esse cenário pode mudar. Mas não apenas observar passivamente: quero mudar meus próprios hábitos, de modo que eu também possa influenciar positivamente as pessoas ao meu redor. Um pouco idealista? Com certeza. Mas espero que quem leu este texto até o fim também se sinta comprometido com a transformação desse cenário, assim como todos nós que precisamos fazer a nossa parte.