Quantos silêncios mantemos para deixar o outro confortável enquanto, no fundo, estamos desconfortáveis? Essa pergunta, confesso, muitas vezes me consome. É como se fosse parte da minha personalidade me calar diante de algumas situações, como se o silêncio fosse a escolha mais segura, a forma de evitar o conflito. Mas, na verdade, o conflito não acontece com o outro, aquele que recebe o meu silêncio. Ele acontece dentro de mim, como uma tempestade mental, cheia de argumentos não ditos e de palavras que ficam presas na garganta.
Fico pensando no que poderia ter sido dito, e até imagino que, em alguns casos, nem geraria um conflito. Mas por que sentimos tanto medo de sermos mal interpretados? Será que é uma falha nossa na comunicação, ou as pessoas que não sabem ouvir? Às vezes, o silêncio não é apenas uma forma de evitar o confronto. Às vezes, é uma estratégia para fugir da fadiga de tentar explicar algo para quem não quer entender.
Vivemos em nossas bolhas, com nossos conceitos pré-estabelecidos sobre tudo. E, sim, é normal ter a nossa própria percepção das coisas. Mas será que estamos dispostos a entender o olhar do outro? Será que o outro compartilha da mesma visão? Ou será que o silêncio é, na verdade, uma maneira de evitar descobrir essas diferenças? Porque, ao final das contas, reconhecer essas diferenças exige uma energia que nem sempre estamos dispostos a gastar.
E o que mais me intriga é até que ponto essa comodidade, essa escolha pelo silêncio, realmente nos traz conforto. Será que estamos, de fato, em paz, ou apenas adiando um confronto interno que precisa acontecer? Talvez, o que guardamos lá dentro, o que nos afeta, precise ser dito. Talvez verbalizar, finalmente, o que está preso na mente seja o caminho para silenciar o caos criado pelas palavras não ditas.
Silenciar o outro é fácil. Silenciar a si mesmo, esse é o verdadeiro desafio. E talvez, no final, o maior medo seja justamente esse: o medo de não entender a si mesmo, de não encontrar as palavras certas. De que o outro não se sinta confortável com o que temos a dizer. E ainda assim, o que se guarda dentro de nós não nos deixa em paz. O que, às vezes, não se fala precisa ser dito, para que o silêncio não se transforme em uma prisão.