Há experiências que nos moldam de maneira silenciosa, profunda e irreversível. O sofrimento é uma delas. É uma coisa que não pede licença, não escolhe hora e, muitas vezes, chega sem explicação. Mas o que define o valor do tormento não é sua presença inevitável, e sim a forma como lidamos com ele. O que realmente importa não é quanto tentamos fugir de sofrer, mas quanto somos capazes de sofrer. E de saber sofrer.
O sofrimento é uma parte natural da existência. Não há vida autêntica sem frustrações, decepções e dúvidas. Esperar que tudo transcorra sem martírio é como esperar que o mar nunca tenha ondas. Em vez de negar isso, deveríamos aprender a navegar nessas águas. Saber sofrer é compreender que o dissabor, apesar de indesejado, pode ser um mestre severo, porém justo, que nos força a parar, a rever prioridades, a entender o que nos falta e o que nos sobra.
É claro que todos desejamos alívio, cura e conforto. Mas a verdadeira medida de alguém não está na sua habilidade de escapar do sofrimento, e sim na sua capacidade de suportá-lo, de olhar nos seus olhos e dizer: “Eu continuo aqui”. Isso exige coragem, mas também exige humildade e reconhecer que a realidade é feita de altos e baixos, e que cada queda revela um pouco mais de nós mesmos.
E há uma verdade que, mesmo quando esquecida, continua válida: o sofrimento é temporário. Por mais intenso que pareça o padecimento, por mais longa que seja a noite escura da alma, isso passa. Tudo passa. O tempo tem uma paciência implacável e cuida de transformar a ferida aberta em cicatriz, que afligirá cada vez menos e servirá para lembrar que suportar o sofrimento é possível, justamente porque ele não é eterno.
Quem aprende a sofrer sem se revoltar ou se entregar ao desespero desenvolve uma força enorme. Não muito rígida, que endurece e bloqueia outros sentimentos, mas uma força viva, feita de aceitação e de compreensão. Essa força não afasta o sofrimento, mas o acolhe, escuta o que ele tem a dizer, e então segue em frente, com mais sabedoria e profundidade.
Fugir do sofrimento é, em muitos casos, adiar um encontro com a própria alma. E o que é mais perigoso: nos torna mais rasos, mais impacientes e mais intolerantes com a inquietação dos outros. Já quem sabe sofrer tende a ser mais sensível, mais empático e mais atento ao que é essencial. Porque quem sofreu de verdade aprendeu que a vida não é feita só de alegrias passageiras, mas de momentos intensos, bons ou ruins, que nos tornam mais humanos, independente de qualquer causa.
Saber sofrer não é se entregar ao desgosto, mas permitir que ele atravesse e transforme tudo em nossa frente. Um ato de coragem silencioso. Um gesto de maturidade. Um compromisso com a verdade da vida, que não é perfeita, mas é sincera e real.