Afirmação é da erechinense Analu Maiolli, que, antes de trocar Portugal pela Irlanda no início de agosto, embarcou, ao lado do marido, numa aventura que mudou a forma como ela vê o mundo.
Mudanças, sejam planejadas ou repentinas, nos abalam. Nos tiram da zona de conforto. Adaptar-se, readaptar-se e recriar-se exige resiliência e flexibilidade.
Mesmo após morar em três países diferentes num período de dois anos, a mais recente troca de endereço surgiu como algo desafiador para Analu e o esposo, Willian Oneta, também de Erechim. Confrontados pelo destino, o casal pensou:
- Já que ela (alternância) está aí, vamos aproveitá-la da melhor maneira.
E, assim, depois de uma temporada de trabalho e aprendizado em Portugal (no setor de atendimento ao cliente de uma empresa de telecomunicação), o destino apresentou a Analu oportunidade profissional numa gigante global do mundo web na Irlanda, a ‘Ilha Verde’.
Mais frio; menos sol.
Mais chuva; menos praia.
Mais cerveja; e mais dúvidas.
Aventura e abertura
Diante de tais dilemas, os dois colocaram tudo na balança (prós e contras) e, juntos, toparam a parada. De cabeça erguida e peito aberto, no entanto, decidiram fazer algo mais, transformando o percurso de Portugal até o próximo destino numa aventura; algo que serviu para abrir (ainda mais) a mente dos dois.
O plano foi o seguinte:
Partir de Portugal até a Irlanda de ônibus passando por vários lugares em duas semanas. Pegaram o voo até Luxemburgo e de lá, via bus, a aventura começou. O objetivo era gastar pouco, conhecer o mundo, aprender com as pessoas e com a experiência.
Para isso, Analu e Willian decidiram utilizar mais uma vez o ‘Couchsurfing’ (surfe de sofá) e ficaram hospedados na casa de pessoas locais - o que, mais do que gerar economia, permitiu a construção de novas amizades, experiências e conhecimento.
Luxemburgo
Em Luxemburgo, o casal descobriu um país com uma sede de ser reconhecido mundialmente. “A pessoa que nos recebeu contou a história e nos explicou a geografia dessa terra que, apesar de pequena e internacional (em torno de 50% da população é composta por estrangeiros) procura manter sua identidade através do idioma (com três línguas oficiais: francês, alemão e luxemburguês), união do povo e cultura”, relembra Analu - que completa: “Além disso, descobrimos as diversas regiões do país: um Norte rural, um Sul Industrial e o centro mais moderno. Isso tudo em 2500 km² e 590 mil habitantes”.
Alemanha
De Luxemburgo partiram à Alemanha para conhecer Frankfurt e Berlim. A primeira os surpreendeu pela modernidade, limpeza, organização. Uma cidade que foi completamente destruída na Segunda Guerra Mundial e, ao ser reconstruída, manteve a arquitetura antiga misturada aos enormes prédios modernos dos maiores bancos da Alemanha que ali estão.
Berlim, por sua vez, revelou-se gigante, com parques, construções novas e antigas. Uma verdadeira ‘bomba de história’, para ser sentida e vivenciada. Desde o (resto) do Muro ainda erguido, a cemitérios, museus e memoriais grátis, tudo fez com que Analu e Willian conhecessem a história; sem conseguirem, por vezes, conter as lágrimas. “Aprendemos uma parte da história (Nazismo e Holocausto) que não pode ser esquecida para não ser revivida”, ensina Analu.
República Tcheca, Holanda e Bélgica
Os ônibus seguintes os levaram a Praga, na República Tcheca; Amsterdam, na Holanda; e Bruxelas, na Bélgica. “Em Praga, sentimos um pouco a Europa do Leste e sua abertura para o mundo após os períodos de Segunda Guerra, Guerra Fria e toda sua reconstrução. Percebemos isso pela quantidade de turistas e estrangeiros vivendo lá; pelo aumento dos preços dos bens necessários para o cotidiano; e por tudo que aprendemos com um casal de brasileiros que nos recebeu na sua casa”, conta Willian - que garante jamais esquecer, também, dos canais de Amsterdam; ou dos chocolates belgas.
Conhecer para ser melhor
No fim, ao chegar na Irlanda para recomeçar a vida, Analu confessa ter percebido que aquelas duas semanas foram especiais. “É incrível que, depois de uma viagem de duas semanas já não sejamos os mesmos”, resume ela, pronta para a mudança estabelecida - e tudo o que a Ilha Verde tem a oferecer.
“Viajar é isso: conhecer, aprender, se emocionar. É lutar contra a saudade e perceber que viver com o pouco material é possível, mas que viver sem mudar é inútil, que não há sentido em viver tendo e não sendo, em querer e não ser. Enquanto pudermos, o mundo vai nos transformar e claro, divertir”, finaliza, inspiradora.