A técnica de enfermagem Sayuri Tanaki Pires nasceu no Brasil, e, filha de pai japonês, também já teve a oportunidade de morar no Japão – o que lhe permitiu viver experiências – e Natais – diferentes em meio a ambas culturas. Confira essa incrível história:
“Minhas memórias me levam a 2007, véspera de Natal no Brasil e início de uma grande mudança em minha vida. Casa enfeitada, crianças ao redor e um sentimento um tanto confuso; eu deixaria tudo isso para ir ao Japão. Ao embarcar em Curitiba, o contato visual com símbolos natalinos me dava um aperto no peito, pois apesar de não ser cristã (sou budista) sempre mantive tradições e respeito por essa comemoração religiosa.
O voo transcorreu normal, como outros que já havia realizado no decorrer da juventude entre as minhas duas pátrias: Brasil, de nacionalidade, e Japão, de coração e descendência. A escla foi em Londres, também ornamentada em vermelho, verde e branco, comidas natalinas e canções e eu me sentindo ausente do meu meio familiar. Era 25 de dezembro e eu sobrevoava o monte Fuji, quando veio à mente o significado de Natal nascimento e renascimento, pois era esse o meu desejo dar um ‘start’ na minha vida pessoal e familiar.
Quando desembarquei em Narita, lembrei de natais anteriores já vividos no Nihon (Japão), onde prevalece o Natal comercial sem vínculo religioso (apenas 2% da população japonesa é cristã). No Japão, o Natal é um dia normal de trabalho, iguais aos dias comuns onde comemos o Christian cake (bolo de Natal) e kentaki (frangos empanados resquícios de uma tradição norte-americana). Alguns casais jovens de mentes abertas aproveitam também para comemorar o amor com troca de presentes nas ruas e hotéis do amor, onde podem usufruir de momentos românticos (não eróticos) exaltando carinho nada usual no decorrer do ano.
Durante o percurso do aeroporto até minha casa vi iluminações tradicionais dessa época (Ilumination), onde os nativos e estrangeiros apreciam frio e neve contrastando com as luzes coloridas em variadas formas e desenhos sempre munidos de câmeras fotográficas, casacos grossos e chocolate quente.
Chegando na região em que moraria pelos próximos 10 anos, observei um preparativo diferente, pois ao atravessar cidades com grande número de latinos, especialmente peruanos e brasileiros, via que, mesmo em um dia comum de trabalho, eles iam aos mercados brasileiros em busca da carne para o churrasco e o tradicional panetone.
Sem dúvida, foi um Natal diferente, cheio de saudades e anseios. Todavia, o ano passaria rápido – dedicado ao trabalho e a busca do visto para levar meu marido e filhas junto comigo para o Japão. Dou um salto, agora, para o Natal de2008. Lembro de decorações e o sentimento um pouco diferente naquele dia 12 de dezembro, quando vi minha família desembarcar no Japão, o que fez despertar um sentimento natalino de união e amor. Por mais que durante esse tempo estivéssemos em contato direto via telefone e internet, nada supera o contato físico.
Com isso poderíamos decorar a casa, trocar presentes e saborear o Christian cake juntos.
Desde então, preservo a data natalina como Renascimento, faço minhas orações, recito o NAN MYOHO RENGUE KYO Sutra do budismo DE NITIREN DAISHONIN. Entendo que é uma oportunidade para agradecer mais o que somos, independente da nacionalidade ou país em que vivemos; e é isso que tento fazer a cada dia, dando atenção aos que necessitam de um carinho, em especial os meus pacientes. FELIZ NATAL a todos”.