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Turismo

Remando a favor da aventura

Alexandre Rossi e João Paulo Peres Bezerra viajaram nos dias 18 e 19 deste mês, partindo do Parque Teixeira Soares, em Marcelino Ramos, com destino ao Parque Fritz Plaumann, em Concórdia

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Dupla percorreu 60km nos dois dias de remada
Descanso após um dia de remada pesada
Por Marina Oliveira com supervisão de Carlos Silveira
Foto Arquivo pessoal

Há uma expressão popular que afirma que “alguém sempre sai perdendo”, o que pode representar bem a relação entre a espécie humana e o meio ambiente. Mas com a ascensão da produção em massa e a necessidade de consumo desenfreado, a real dificuldade passou a ser identificar qual dos envolvidos é que sai ganhando nessa história.

O Rio Grande do Sul está entre os quatro estados do país que não possuem regulamentação do Programa de Regularização Ambiental (PRA), conjunto de normas legalmente estabelecidas, compatíveis com as normas de caráter geral definidas pelo Governo Federal, que compõe uma etapa obrigatória para implementação do Código Florestal, lei de proteção da vegetação nativa do país.

Diante dos dados, que representam a imprescindibilidade de uma fiscalização rigorosa, bem como a implementação leis de proteção ao meio ambiente, desenvolver práticas de preservação ambiental pode ser um desafio. Mas ainda há quem resista à essa onda e, remando contra a maré, vá em busca de novas possibilidades de incentivo à conservação da natureza.

E foi justamente o sonho de construir sensibilização e conscientização ambiental a partir da prática de esportes de aventura que motivou a dupla Alexandre Rossi e João Paulo Peres Bezerra a planejar a 1° Remada Entre Parques para, não apenas “correr atrás”, mas remar sentido à questão da preservação das águas.

A viagem aconteceu nos dias nos dias 18 e 19 deste mês, tendo como ponto de partida o Parque Natural Municipal Mata do Rio Uruguai Teixeira Soares, na RS 191 em Marcelino Ramos, com destino ao Parque Fritz Plaumann, em Concordia/SC, interligado ao Rio Uruguai. Ao todo, a dupla percorreu 60km nos dois dias de remada.

 

         Unindo propósitos

Alexandre é educador físico, diretor técnico da Inspira Eventos e atleta bicampeão brasileiro, 4x campeão gaúcho e 4x campeão catarinense de corrida de aventura. João Paulo é geógrafo, professor adjunto de geografia na UFFS-Erechim, explorador e praticante de atividades outdoor. Essa união resultou no propósito comum de fomentar e aproximar ideias de educação e preservação ambiental à qualidade de vida e ao esporte, levando a dupla a iniciar um projeto de integração regional e preservação de bacias hidrográficas.

A iniciativa vai buscar colocar como uma possibilidade para a região o turismo de aventura, prática com potencial de geração de renda e de desenvolvimento econômico, com atividades de baixo impacto.

 Com ampla experiência em planejamento e gestão ambiental, educação ambiental e geotecnologias aplicadas à questão ambiental, João Paulo aponta o turismo de aventura e o eco turismo como interessantes ferramentas para trabalhar a questão da conscientização ambiental, principalmente ao considerar a capacidade da região para tal.

“Nós estamos aqui na região hidrográfica do Rio Uruguai, no território Gaúcho, nas bacias hidrográficas dos Rios Apuê - Inhandava e do Passo Fundo, e temos aqui um setor de produção de energia bastante robusto e forte, com um conjunto de usinas, dentre elas a usina de Itá, com uma multinacional chamada Engie. Na construção dessa usina, uma das formas de compensação ambiental foi a construção de dois parques, o Fritz Palma, no território Catarinense, e o Teixeira Soares, no território Gaúcho. E esse caminho entre os dois parques deu origem a ideia da remada entre parques, porque são locais muito bonitos, com paisagens bastante preservadas e o reservatório nesse trecho oferece a possibilidade de vários esportes náuticos, alguns que ainda não existem na região como remo olímpico, canoa havaiana e outras modalidades de remo olímpico. O pessoal também já costuma usar para a pesca, porém sempre com predominância da utilização de embarcações motorizadas, o que gera aí algum impacto ambiental. Então a gente teve essa ideia de fazer a remada para sensibilizar a comunidade regional para a preservação dessas águas e para uma perspectiva de potencial turístico”, explica Bezerra.

A 1° Remada Entre Parques foi executada pelos dois atletas, um a bordo de um caiaque e o outro de um stand up, a fim de demonstrar a possibilidade de praticar ambas as modalidades. “Até onde tenho notícia, essa travessia é inédita para a modalidade stand up, acho que ninguém tinha remado de ‘sup’ nesse trecho”, conta o professor.

 

Remando em frente

Partindo às 6h da manhã de sábado, 18, do Parque Natural Municipal Mata do Rio Uruguai Teixeira Soares, na RS 191 em Marcelino Ramos, a dupla remou por aproximadamente nove horas, chegando à ponte da BR 153 por volta das 16h e instalando-se no gramado do bar da ponte, onde o proprietário ofertou apoio. “Neste dia lidamos com muito calor, vento contra... Mas as paisagens ao longo da remada fazem valer a pena”, relata João Paulo.

O responsável pela logística da expedição foi Alexandre, quem calculou as distâncias, paradas e ritmo de remada. “Minha percepção sobre a remada vai muito para o lado de analisar o potencial da região para esportes de aventura e por meio disso, chamar atenção para a necessidade de preservar nossas águas”, destaca Rossi.

A descrição de Bezerra sobre o trajeto percorrido no primeiro dia ilustra um ambiente com características paisagísticas mais próximas ao que era o Rio Uruguai antes da inundação do enchimento do reservatório. “De forma geral se vê as encostas preservadas com fragmentos florestais de mata nativa bastante presentes, mas também alguns pontos chamam atenção com relação a necessidade de restauro ecológico em algumas áreas, ainda que majoritariamente a preservação seja a regra dessa região. Há sim alguns pontos que precisam receber mais atenção, e talvez nesses pontos a indústria do turismo ecológico, do turismo de aventura, possa contribuir com a geração de renda para essas famílias que estão por ali”.

 

O último a dormir apaga a lua

Segundo o geógrafo, o descanso após um dia de remada pesada foi agraciado com uma noite de “céu incrível e brisa muito boa”. Com destaque também para a potencialidade turística noturna, João Paulo apontou para a possibilidade da contemplação astronômica. “Muitas pessoas se interessam por astronomia, e realmente o Vale do Rio Uruguai é muito lindo e de noite também traz um espetáculo especial com as estrelas. É um vale que tem cidades pequenas, então a poluição luminosa do meio urbano não é intensa”.

Alexandre e João Paulo despertaram às 3h30 e, após um café, desmontaram acampamento e iniciaram a remada por volta das 4h. “Estava perfeito para remar, sem marolas e nada de vento contra. O nascer do sol foi um espetáculo, no domingo a remada rendeu muito mais. Estava menos quente e o vento muito mais fraco. No segundo trecho o vale é bem mais amplo, propiciando espelhos d'água gigantes, verde esmeralda... É demais”, relata o geógrafo.

Os atletas chegaram ao Parque Fritz Plaumann por volta das 13h, acessando a unidade de conservação pelos decks da trilha.

 

Via de mão dupla

Ao fim de mais uma aventura, o que a experiência da dupla revela é que, embora popular, a afirmação de que “alguém sempre sai perdendo” não se aplica a situações em que o senso de comunidade prevalece. Quando há respeito todos saem ganhando.

“Já tem um tempo que olho para a região do Alto Uruguai com carinho em relação ao potencial que temos para esportes de aventura. Quando pensamos em esportes náuticos, temos muita sorte de ter o Rio Uruguai, que é um dos principais rios do Brasil, na porta de casa. Penso que o esporte é uma ferramenta importante para transformar vidas e, quando praticado em meio a natureza, conscientizar a população da necessidade de preservar o meio ambiente”, completa Rossi. (Texto por Marina Oliveira com a supervisão de Carlos Silveira)

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