Volto a escrever sobre futebol aqui neste espaço. Peço desculpas aos que não gostam da repetição do tema, mas é impossível não falar da próxima Copa do Mundo, agora que já temos 42 dos 48 países participantes confirmados. O aumento de 32 para 48 seleções trouxe muitas histórias importantes para serem contadas.
Na Europa, as gigantes tradicionais, como França, Espanha, Inglaterra e Alemanha, confirmaram presença. O ponto alto, contudo, foi o retorno de seleções que estavam fora do Mundial há muito tempo. Noruega, Escócia e Áustria, ausentes desde 1998, voltaram juntas após 28 anos. Os noruegueses não deram chances à Itália, que amargará a terceira repescagem consecutiva. A Escócia derrotou a Dinamarca nos acréscimos do confronto direto, e a Áustria, que vinha perto da vaga desde 2018, finalmente garantiu o retorno. Ainda restam quatro vagas que serão definidas em março, e o espaço para surpresas pode aumentar com Albânia e Macedônia (estreantes) ou a volta da Romênia (outra que não vai desde 1998).
Na América do Sul, a hegemonia se manteve com Brasil, Argentina e Uruguai garantindo mais uma participação. A grande história ficou com o Paraguai, de volta após 16 anos. A Bolívia, fora da Copa desde 1994, pode ser a próxima protagonista se conseguir a vaga na repescagem intercontinental.
A América Central e o Caribe trouxeram dois feitos notáveis. Longe do Mundial desde 1974, o Haiti superou a Costa Rica e se classificou, dando um sopro de esperança à sua população, mergulhada em guerra civil há quatro anos. A Copa do Mundo também terá a estreia de Curaçao, uma ilha com população menor que Passo Fundo que recrutou atletas de origem holandesa e eliminou a Jamaica. Os jamaicanos, que não se classificam desde 1998, terão outra chance na repescagem, assim como o Suriname, outro país que recorreu a jogadores da Holanda e ficou a uma vitória da classificação direta.
A África sempre rende boas histórias. Costa do Marfim, Egito, África do Sul e Argélia retornam após um tempo. Marrocos, Senegal, Gana e Tunísia repetem a dose. O destaque principal, porém, é a estreia de Cabo Verde, um arquipélago com 300 mil habitantes que deixou Camarões para trás. A República Democrática do Congo eliminou a Nigéria e disputará a repescagem em março, buscando retornar ao Mundial após 52 anos (a última vez foi em 1974, como Zaire).
Na Ásia, seis times que jogaram em 2022 (Japão, Coreia do Sul, Arábia Saudita, Irã, Austrália e Catar) estarão em 2026. A surpresa foi a classificação de Uzbequistão e Jordânia, mais duas estreantes que, mesmo sem tradição, levam milhões de novos torcedores para o espetáculo. O Iraque, fora desde 1986, ainda tem chances na repescagem.
Para muitos, o aumento de vagas na Copa do Mundo representa uma queda no nível técnico dos jogos. Mas quem pensa exclusivamente no que acontece dentro de campo, esquece o principal: a emoção da torcida e a união dos povos. Para um brasileiro, pode ser comum ver a seleção nas Eliminatórias, já que o país foi a todas as Copas. Mas quem se atreve a dizer que o futebol "não é nada demais" ou que a sua seleção é "fraca" na frente de alguém de Curaçao, Cabo Verde, Haiti, Paraguai, Jordânia ou Escócia? Esse torcedor não se importa com a crítica técnica, o que vale é a catarse de estar presente no maior evento do planeta, onde histórias improváveis se misturam com as páginas escritas pelos gigantes. Quem ama futebol, ama a Copa do Mundo. E quem ama a Copa do Mundo, ama a história contada em tempo real.