Reset
Sabe aquele computador velho, que nos acompanha há tanto tempo e que já foi um grande parceiro de trabalho? E o que dizer do nosso telefone celular, que registrou quase tudo o que se passou em nossa vida recente. São dispositivos que, mesmo inanimados, dizem muito sobre a nossa vida, por onde andamos, o que pensamos e até o que sentimos. Dadas as modernidades que introduzimos em nossas rotinas, esses aparelhos acabam sabendo mais da nossa intimidade do que os nossos melhores amigos.
Vida útil
Na era da obsolescência programada, sabemos que um celular moderno, de última geração, não dura mais do que dois ou três anos. Os computadores, um pouco mais. Passa um tempo e os telefones já começam a receber notificações para que sejam “atualizados”. Acontece o mesmo com os computadores. Em resumo, estes alertas não deixam de ser “sinais” de que algo de errado está por vir, mesmo que aparentemene não tenha nada de errado. Para as gerações mais antigas, há sempre uma resistência em dar por acabado um bem que custou caro e que deve ser substituído por outro em tão pouco tempo. São crenças, e como tal, são difíceis de lidar.
Reiniciar
Para os mais apegados ao aparelho – e nem seria de todo errado dizer que somos dependentes deles – uma visita ao técnico sempre garante um respiro e um aumento na vida útil. Uma boa limpeza, uma atualização do software, o correto armazenamento do que realmente presta, costumam dar uma sobrevida ao nosso bolso. Depois que liberamos espaço na memória e organizamos o funcionamento, tudo volta ao normal, ao menos por algum tempo. Às vezes até me pergunto: e se fizéssemos essas reparações com frequência, quanto tempo será que duraria um aparelho?
Reset da vida
No fundo, o que se passa com nossos telefones e computadores não deixa de ser um espelho daquilo que se passa conosco. Se vamos acumulando bobagens, acessando sites, aplicativos e outras ferramentas de forma desordenada, fazemos ao nosso cérebro o mesmo que fazemos aos nossos celulares e nem percebemos. No entanto, o nosso cérebro somos nós. Não é possível levar a um técnico, instalar um novo software ou simplesmente apagar desgostos de nossa memória. A vida não tem reset, mas permite recomeços.
Depressão
E como uma simples máquina complexa, nossa capacidade de assimilar as coisas da vida vai ganhando arquivos que podem corromper a saúde mental. Ideias fixas, tristezas mal arquivadas e ideais de vida que não se concretizam são sempre fonte de angústia e porta de entrada para a depressão. Doença complexa, de difícil manejo, faz os humanos parecerem máquinas, obsoletas, travadas e desfuncionais. É aí que mora o perigo. A vida não tem reset. A solução final da depressão não é a morte. O que levamos, quando partimos, é só o que temos na consciência. Resetar o corpo, como quem troca um celular ou compra um computador novo, não resolve nada.
Viver
Há receitas para tudo, mas nem sempre encontramos uma que seja feita à nossa medida. Porém, o estilo de vida que levamos acaba por ser o principal indicador. Se teremos ou não o nosso software da vida abalado, travado ou corrompido, não sabemos. Somos todos pacientes potenciais da depressão e de outras doenças mentais. Por isso, é importante ter amigos, perder a vergonha, aceitar as nossas falhas e não se importar tanto com a sociedade perversa que nos atormenta. E, se mesmo assim a nossa consciência anda atrapalhada, sempre cabe uma ida ao médico ou terapeuta, porque há coisas que transcendem à nossa vontade. Na dúvida, comece pelo seu melhor amigo.