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Economia

Os impactos da taxação norte-americana no Brasil

Pesquisador erechinense, Vitelio Brustolin, analisa medidas anunciadas por Donald Trump na segunda-feira (10). Darlan Dalla Roza, presidente da ACCIE, revela preocupação em relação aos impactos na economia local

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Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisador de Harvard, Vi
Presidente da Associação Comercial, Cultural e Industrial de Erechim (ACCIE), Darlan Dalla Roza
Por Marina Oliveira com supervisão de Carlos Silveira
Foto Arquivo BD

Na segunda-feira, 10, foram assinadas pelo presidente norte-americano Donald Trump ações executivas que impõem tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio ao país. Diante desse cenário, o Brasil pode ser impactado, visto que o aço, especificamente, é o segundo produto que o país mais exporta para os Estados Unidos.

Em entrevista ao Jornal Bom Dia, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisador de Harvard, Vitelio Brustolin, explica quais podem ser os efeitos da taxação norte-americana no Brasil.

 

Impactos e consequências

No ano passado, o Brasil vendeu aproximadamente US$ 2,8 bilhões em aço para os EUA, além de uma quantidade significativa de ferro. O aço é produzido a partir do minério de ferro, no entanto, o ferro ainda não está sendo tarifado. Somando as exportações de aço e ferro, o valor total chega a quase US$ 5 bilhões. Já no caso do alumínio, o volume exportado é menor, cerca de US$ 900 milhões por ano, o que torna esse mercado menos expressivo em comparação ao do aço. 

“Essa taxação impacta diretamente nossas exportações, pois, diferentemente dos EUA, para a China exportamos minério de ferro, e não aço manufaturado ou semimanufaturado. Como a China é o maior produtor mundial de aço, não temos como direcionar nossas exportações desses produtos para lá. Além disso, a Europa enfrenta um crescimento mais lento, com alguns países já em recessão, o que dificulta encontrar um mercado alternativo para substituir os EUA”, esclarece Vitelio.

 

Histórico das tarifas sobre o aço e o alumínio

É possível que esta seja a repetição de um problema já atravessado pelo país anteriormente. Conforme o professor, em março de 2018, no primeiro mandato de Trump, o país impôs tarifas de 25% sobre as importações de aço e 10% sobre as de alumínio.

Naquela época, os EUA excluíram Canadá e México, que, junto com o Brasil, estão entre os três maiores fornecedores de aço para os norte-americanos. O Brasil, que durante esse período tinha uma relação mais próxima com os EUA, solicitou a inclusão em uma lista de exceção e foi aprovado, garantindo um esquema de cotas, sistema que permitiu ao país continuar vendendo sem tarifas, mas com um limite de exportação. 

 

Impactos das cotas no Brasil

Mesmo com o esquema de cotas, houve desaceleração nas vendas de aço e alumínio para os norte-americanos, causando retração na produção e, consequentemente, desemprego nesse setor no Brasil.

Em outubro de 2020, Trump alegou que empresas brasileiras estavam praticando dumping – vendendo produtos abaixo do preço de mercado – e elevou as tarifas sobre chapas de alumínio do Brasil de 15% para 145%. Já em julho de 2022, no governo Biden, os Ministérios da Economia e das Relações Exteriores anunciaram que os EUA haviam revogado as medidas restritivas da era Trump contra as exportações brasileiras.

 

Possíveis novas tarifas e ampliação para outros setores

Além das exportações brasileiras de aço, a cobrança da taxa anunciada por Trump tem potencial para afetar outros setores da indústria do país, afinal, a barreira tarifária pode atingir empregos e diferentes setores das áreas de produção.  

Dessa vez, a proposta do governo americano é aplicar tarifas a todos os países sem distinção, horizontalmente, o que pode afetar a economia brasileira de forma severa. “Um exemplo disso é a exportação de carne bovina, que aumentou nos últimos anos. Outras commodities também estão na lista, como o petróleo – que é o principal produto de exportação do Brasil para os EUA, seguido pelo aço”, destaca Vitelio.

O professor analisa que, mesmo com as tarifas, os EUA ainda dependem das importações desses metais, pois produz 90 milhões de toneladas de aço por ano, mas consome de 90 a 200 milhões de toneladas no mesmo período. Com relação ao alumínio, a dependência é ainda maior.

 

Impacto na inflação e no dólar

Se a inflação aumentar nos EUA por conta dessas tarifas, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) pode ter que elevar os juros novamente. Isso tornaria os investimentos nos EUA mais atraentes, levando a uma fuga de dólares de países emergentes, incluindo o Brasil. 

Caso isso aconteça, Vitelio indica uma possível valorização do dólar frente ao real, aumentando a inflação no Brasil, já que grande parte das commodities, como petróleo e alimentos, são cotadas em dólar.

 

Criando barreiras

Os EUA enfrentam um déficit comercial de US$ 900, o que, na visão do governo Trump, justifica a necessidade de impor novas barreiras comerciais. 

No caso do Brasil, as tarifas são negociadas dentro do Mercosul, onde há uma tarifa comum de importação, atualmente em 11%. No entanto, medidas de defesa comercial podem ser aplicadas unilateralmente, como uma possível retaliação ao governo dos EUA. 

 

Por aqui

O presidente da Associação Comercial, Cultural e Industrial de Erechim (ACCIE), Darlan Dalla Roza comenta que, devido a falta de uma definição mais clara da decisão norte-americana, ainda não há total segurança em relação aos impactos na economia local. Ainda assim, destaca que a preocupação já é uma realidade no Rio Grande do Sul, Estado altamente industrializado.

“Regiões como Erechim, Caxias do Sul e a capital abrigam grandes empresas do setor metalmecânico, que serão diretamente afetadas. O aumento do preço do aço compromete a competitividade da indústria como um todo”, avalia.

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