Quando falamos sobre hemorroidas, muitos pacientes costumam buscar ajuda acreditando que a condição está relacionada a esse problema. O sangramento durante a evacuação, a dor ou até o surgimento de uma bolinha na região anal são sintomas que logo associamos a hemorroidas. “Porém, nem sempre esses sintomas são de hemorroidas”, pontua o médico proctologista, Dr. Enzo Taglietti.
Fissuras anais, pequenos rasgos na mucosa do ânus, são tão comuns quanto as hemorroidas e podem ter sintomas semelhantes, como dor e sangramento. Geralmente, essas fissuras surgem devido a traumas causados por fezes ressecadas ou, por vezes, pela diarreia. “O tratamento para essas condições, na maioria das vezes, envolve mudanças na alimentação e no hábito intestinal”, coloca.
Por outro lado, a hemorroida é uma doença caracterizada pela dilatação dos vasos sanguíneos da região anal, formando um "coxim" que ajuda a controlar a saída de fezes e gases. O sangramento e o surgimento de uma protuberância ao evacuar são sinais típicos dessa condição. Já as fístulas, complicações mais graves que surgem após infecções, costumam apresentar vazamento de pus ou fezes, além de dor persistente.
“Apesar das diferenças, todas essas condições têm em comum um fator importante: o mau funcionamento do intestino”, lembra Enzo. A constipação (intestino preso), esforços excessivos para evacuar e hábitos inadequados, como o uso excessivo de papel higiênico, são os principais gatilhos para esses problemas. Além disso, o consumo de álcool também pode agravar os sintomas, especialmente em casos de fístula.
A cor das fezes e o que ela indica sobre a saúde intestinal
Normalmente, as fezes têm uma cor marrom, devido à biliverdina, uma substância produzida no fígado que, após passar pela digestão, se transforma em estercobilina nas bactérias do intestino grosso. Alterações na cor das fezes, como a presença de sangue, fezes muito claras ou escuras, podem indicar problemas de saúde mais sérios, como tumores ou doenças no fígado ou vesícula.
Tratamentos mais eficazes para hemorroidas, fissuras e fístulas
A abordagem para essas condições começa com a correção dos hábitos intestinais. A ingestão adequada de fibras e líquidos é fundamental para evitar o intestino preso, uma das principais causas dessas doenças. Além disso, é recomendado evitar o uso excessivo de papel higiênico, que pode irritar a região anal, optando por lavar a área com água morna e secar com uma toalha macia.
Em muitos casos, essas mudanças simples são suficientes para aliviar os sintomas. Quando isso não é o suficiente, tratamentos clínicos, como pomadas anti-inflamatórias ou anestésicas, podem ser prescritos. “No entanto, se o problema persistir por mais de 30 dias, a doença pode ter se tornado crônica e será necessário considerar opções mais avançadas”, explica.
Para hemorroidas, tratamentos não invasivos, como a ligadura elástica (um tipo de borrachinha que reposiciona a hemorroida), crioterapia, laser ou escleroterapia, podem ser eficazes. Já para fissuras, a aplicação de Botox (toxina botulínica) pode ajudar a relaxar os músculos e facilitar a cicatrização.
Quando os tratamentos não invasivos não funcionam, a cirurgia pode ser necessária. Para hemorroidas graves, técnicas como a remoção da hemorroida ou a aplicação de laser podem ser opções. Nas fístulas, que geralmente são crônicas, a cirurgia é quase sempre necessária, podendo ser realizada de forma tradicional ou por métodos minimamente invasivos, como a cirurgia por vídeo ou laser.
Tecnologia e avanços no tratamento
As terapias a laser têm ganhado destaque nos tratamentos de hemorroidas, fissuras e fístulas devido aos resultados promissores, com menos dor no pós-operatório e uma recuperação mais rápida. A terapia com luz pulsada e LED também tem se mostrado eficaz, especialmente em condições mais leves.
Pós-operatório e cuidados essenciais
Após o tratamento, o sucesso depende muito dos cuidados pós-operatórios. A manutenção de uma alimentação rica em fibras e a higiene adequada da região anal são fundamentais para evitar recidivas. É crucial que o paciente evite o esforço excessivo durante a evacuação e siga as orientações médicas para garantir uma recuperação completa.
A importância de procurar tratamento cedo
Muitos pacientes só procuram ajuda quando o problema já está bastante avançado, o que pode dificultar o tratamento. O ideal é buscar orientação médica ao primeiro sinal de sintomas, como sangramentos ou dor. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, menores as chances de complicações e a necessidade de cirurgia. “É essencial lembrar que, ao surgirem sangramentos, é importante excluir a possibilidade de doenças mais graves, como câncer intestinal, antes de seguir com o tratamento adequado”, frisa Enzo.
Quebrando o estigma
Um dos maiores desafios enfrentados pelos pacientes é o estigma associado a essas condições. Embora sejam problemas comuns, muitas pessoas ainda hesitam em procurar ajuda devido ao preconceito. “Estimativas indicam que até 80% das pessoas vão passar por algum problema relacionado a hemorroidas ao longo da vida”, lembra. A conscientização e o esclarecimento sobre essas condições são fundamentais para que as pessoas se sintam mais à vontade para buscar o tratamento adequado e deixar o tabu de lado.
Buscar ajuda médica de forma precoce não só melhora as chances de sucesso no tratamento, mas também contribui para o fim do estigma e para uma abordagem mais aberta e informada sobre problemas tão comuns e tratáveis.