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Expressão Plural

Ninguém dorme

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Por Everton Ruchel
Foto Arquivo Pessoal

O Papa morreu. Três palavras que, apesar de curtas, carregam um peso imenso. Quando ecoaram pelo mundo, foi como se o tempo tivesse diminuído o ritmo por um instante. Os noticiários interromperam suas pautas, redes sociais pararam de falar aleatoriedades e, em muitos lugares, alguém falou em voz baixa: "O Papa morreu."

É estranho pensar que, num mundo tão apressado e barulhento, a morte de um só homem ainda seja capaz de provocar silêncio. Mas foi exatamente isso que aconteceu. Um silêncio curioso, respeitoso, pensativo. Como se todos soubessem, mesmo sem dizer, que estavam diante do fim de uma era.

Porque o Papa não é só um líder religioso. É um símbolo. Ele representa uma instituição que atravessa séculos, que já viu impérios nascerem e caírem, que tenta, mesmo entre crises e mudanças, manter-se de pé. E quando essa figura parte, sentimos o chão mudar debaixo dos nossos pés.

Mesmo quem não segue a Igreja sente a ausência. É como se, por um momento, fôssemos todos puxados de volta à ideia de que algumas figuras ainda representam algo maior. A morte de um Papa nos liga, mesmo que brevemente, com a noção de legado, essa palavra esquecida em tempos de pressa. Porque, ao contrário da fama, o legado permanece quando o nome se apaga.

É natural que venham as homenagens, os ritos, os discursos protocolares. Mas o que se passa por dentro, em cada um, é mais difícil de traduzir. Há quem chore, quem se cale e quem reze. Há quem simplesmente pense. Pense na passagem do tempo, na fragilidade dos símbolos, no modo como as figuras públicas ainda conseguem tocar, mesmo de longe, a intimidade do cotidiano.

Diante disso, ninguém dorme. Não por medo, nem por tristeza, mas por essa estranha sensação de que algo importante foi encerrado. A noite fica mais longa e o ar fica mais pesado, como se o mundo todo estivesse em vigília, à espera de algo que ainda não se revelou por completo.

E enquanto isso, a pergunta que todos fazem: o que vem agora? Um novo rosto, um novo nome, um novo jeito de ser Papa? A transição sempre acontece, claro. Mas há um intervalo entre o fim e o recomeço que nos obriga a parar. A observar. A lembrar que, por trás dos títulos e da pompa, há sempre um ser humano. Que nasceu, viveu, tentou, falhou, acreditou e acertou. E agora se foi.

Nesse espaço entre uma liderança que se despede e outra que ainda não chegou, o mundo observa. E espera. Porque, apesar de tudo, ainda nos importamos.

E por isso, nessa noite longa, simbólica, silenciosa e unificadora, ninguém dorme.

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