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Expressão Plural

Eu passarinho

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Marina Oliveira
Por Marina Oliveira
Foto Arquivo pessoal

Há tempos o tempo tem tomado meu tempo. Agora, perto de experienciar uma nova fase, com a conclusão de curso se aproximando – apresentei meu TCC na segunda-feira – ainda há aqui a distância entre mim e as expectativas criadas sobre um futuro que, por pelo menos um bom tempo, pareceu distante e, agora que se aproxima, já não sei o que fazer com o tempo a não ser pensar (e pensar o tempo todo) sobre isso. 

 

Sei bem que ficar esperando por algo ou alguém que me mostre a direção, como em “Time”, do Pink Floyd, não é uma opção. Apesar de ouvir essa faixa desde sempre, ela nunca fez tanto sentido como tem feito de um tempo pra cá. É que a vida bate à porta me convidando pra brincar, mas eu lá tenho tempo pra isso? 

 

Questiono então o que fazer com esse recurso, além do que nos é imposto. Honestamente, sinto que falta aos donos do nosso tempo a noção de consentimento. “E o que eu quero e o que eu preciso nem se reconhecem quando se encontram na rua”, canta Gustavo e eu me identifico, ainda que nem o querer e muito menos o precisar correspondam ao que parecem querer e precisar de mim.  

 

Estamos presos, afinal, o que são a culpa e o medo senão gaiolas que, embora possibilitem a visão exterior, nos privam de conhecer o mundo afora e, consequentemente, reconhecer o que há de fora dentro de nós?

 

Às vezes, bem lá de vez em quando, saio escondida pra brincar lá fora; nesses momentos é que me reencontro comigo. Sinto que é aí onde mora o presente, na fração de espaço em que o tempo dá tempo ao tempo. 

 

Confesso que quero sempre sair mais, e ainda que tente fugir do desejo, me pego com vontade de convidar o medo e a culpa pra brincar lá fora também, quem sabe assim a gente volta a se entender, como na infância, quando minha única certeza era de que brincadeira é coisa séria.

 

Só que agora o tempo tem que ser produtivo – de acordo com esse senso coercitivo de aproveitamento – e já não tenho certeza alguma. Há a exigência de seriedade, responsabilidade e “já passou da hora de acordar pra vida”. Perdemos o tempo de apreciação, aquele intervalo em que “só” nos resta admirar, e isso é tudo. 

 

Me parece que compreender isso, por si só, já é estar desperto. Prefiro que a vida bata à minha porta ao barulho do despertador. Ou então, “um dia você acorda e percebe que o tempo passou, e corre pra alcançar o sol, mas ele está se pondo”.

 

Com sorte, a gente ainda consegue apreciar o pôr do sol. 

 

O tempo passou, o texto acabou, pensei que teria mais a dizer.

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