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Michelangelo

Bufão, gênios e as tumbas de Santa Croce

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Foto Divulgação

Bernardo Shaw Shaw, o Bufão, é um cara estranho. Esta semana, depois de uma xícara de cappuccino entre amigos num dos cafés de Erechim, fez questão de revelar quimera da noite interior.

Coisa encafifada e lúgubre, de verdade. Mais ou menos assim, contou o Bufão:

- Sonhei que estava perambulando pelas tumbas da Basílica de Santa Croce, em Florença. Lugar encantado, transformado arquitetonicamente no final do século 16 e que, hoje, é conhecido como o ‘Templo das Glórias Italianas’. Creio que vocês já ouviram falar... Enfim, só sei que de repente ouvi vozes. Na verdade, cochichos. Quando dei por conta, em meio à madrugada me vi prostrado em frente ao túmulo de Michelangelo.  Ao passo em que mirei seu busto e as três estátuas que representavam suas artes (escultura, arquitetura e pintura), percebi que ali também estavam os jazigos de Galileu Galilei, Nicolau Maquiavel e uma homenagem a Dante Alighieri. Fiquei perplexo ao constatar que o burburinho vinha, justamente, destes gênios da humanidade. O quarteto falava de injustiças, saudade, amor, rumos de Erechim e do Brasil, vida e morte. Galileu, em tom saudoso, comunicou aos demais que naquela data, há exatos 376 anos (8 de janeiro de 1642), passara desta (daquela) para melhor; ao que Michelangelo
(os dois eram vizinhos de tumba) completou dizendo que seu repouso era mais longevo: 455 carnavais, que seriam completados em 18 de fevereiro próximo. Dante, para não humilhar os demais, preferiu o silêncio: desde seu último suspiro, sete séculos haviam transcorrido.

- Em seguida, lembro bem, diz o Bufão, Maquiavel, morto em junho de 1527, começou a falar que o mundo nem sempre é justo. ‘Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios’, ponderou – trazendo à baila o fato de ser, até hoje, incompreendido ou mal interpretado. “Digo isso porque, vejam, até em Erechim, pequeno canto esquecido do mundo, há quem confunda meus ensinamentos sob o pretexto de que, depois de dois anos de gestão, apostem na suposta ‘virtú’ de asfaltos, obras (e aproximações políticas), pregando que ‘a bondade deve ser feita aos poucos’, sendo esta a lembrança que restará. O que eles querem, na verdade, são os votos dos súditos/eleitores na esquina do tempo, em 2020. Vejam só!”.

- Não se apoquente, Nico, rebateu Dante. Até por que, você sabe: desde o Príncipe (até mesmo antes), foi e é assim. É do jogo. Aliás, se nos embrenharmos na floresta das injustiças, penso que tanto eu
quanto Galileu temos muito a lenhar. No meu caso, nem faço questão de lembrar apenas da amada Beatriz, mas do que os guelfos negros – em conluio com o papado – fizeram conosco, guelfos brancos. O golpe me afastou para sempre de Florença, onde jamais voltei. Fui multado, banido e condenado a ser queimado vivo, caso fosse visto em território florentino – tanto que meus restos estão em Ravenna, enquanto aqui tenho esta singela homenagem. Aceitei minha tragédia e dela nasceu a Divina Comédia. Não foi fácil encontrar, depois do inferno, o paraíso. Conforta, no entanto, saber que neste mesmo inferno os lugares mais quentes são dados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise.

- Imagino sua dor, Il Sommo Poeta. E, já que fizeste menção ao meu nome, gostaria de uma parte, pronunciou-se Galileu. O Nico (Maquiavel) falou algo sobre o Brasil. Confesso que os rumos daquele país me preocupam. Vocês acreditam que em pleno século 21 há quem esteja rememorando o tema que me levou a ser perseguido pela Inquisição: o Heliocentrismo. Sim! Lá, a idolatria conduziu à esfera de poder quem negue que o sol é o centro do sistema solar. Para determinado grupo, a verdade estaria no geocentrismo: a Terra, e possivelmente seus umbigos, no cerne de tudo. Neste instante, Maquiavel intercedeu, sorrindo:

- Pelo menos, em defesa do Brasil, devo afirmar que concordo com a nova política armamentista dos poderosos do país: ‘antes de tudo, esteja armado’. Michelangelo, que até então mais ouvira do que  falara, decidiu mudar o rumo da conversa (preferia a arte à violência).

- Saudosos companheiros, ouvi-los me faz perceber que ganha aquele que aprende quando perde. Vocês são prova ‘viva’ disso, com o perdão da canhestra analogia. Cada um aqui evidencia o que sempre digo: o que há de mais certo é confiarmos em nós mesmos para nos tornarmos pessoas de mérito e de valor. Em uníssono, urros de regozijo (italianos!) ecoaram pela Basílica. E, na língua comum a todos,
os quatro se despediram – causando rangidos no piso entalhado.

- Aquilo tocou fundo minha alma. Cheguei a ficar arrepiado, revelou Bernardo Shaw Shaw voltando à realidade. Ao seu redor, os colegas de café começaram a se dispersar. ‘Cara louco’, balbuciou um. Até que o Bufão restou solitário à mesa. Em seu íntimo queria voltar para o sonho. Ou sonhar coisas diferentes. O Brasil do presente teimava em arrastá-lo para a mediocridade e um nacionalismo perigoso, onde, como ensinara Galileu, ‘quanto menos alguém entende, mais quer discordar’. Num corte geral, a vida não era justa, concordou o Bufão – para logo em seguida pegar seu ônibus, a R$ 3,40 a passagem, e rumar ao 2º turno do trabalho; afinal Michelangelo, já dizia:

- Não há dano semelhante ao tempo perdido. ufão, gênios e as tumbas de Santa Croce.

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