Reminiscências
Celebrado em todo o mundo, o Natal mantém seu caráter de festa religiosa e ganhou, em cada país, ingredientes próprios que o transformaram também numa grande comemoração popular. A fraternidade e a alegria marcam o espírito natalino, contudo, são comuns a todos os lares e unem os mais diferentes povos.
Na Grécia, o Natal é festejado em duas semanas ininterruptas
Mesmo em países não católicos, como na Grécia, onde mais de 90% da população pertence à Igreja Ortodoxa, as festividades nessa época do ano são intensas. As comemorações só terminam no dia 6 de janeiro. Nessa data, em todas as igrejas, é celebrada uma missa, após a qual o padre, no caso de existir algum rio, lago ou mar próximo à paróquia, atira na água uma cruz. As pessoas, então, mergulham na busca da mesma, já que quem a achar terá muita sorte no Ano Novo. O felizardo deve dar uma volta pelas casas ao redor da igreja, apresentando a cruz, que retirou da água, e receber dinheiro dos moradores. Como faz muito frio na Grécia, nessa época, as pessoas que se arriscam a mergulhar são as mais pobres. Por isso, é praxe que aquele que encontra a cruz divida o dinheiro com os demais companheiros.
A Missa do Galo mais longa do Mundo
Ela é celebrada na Ilha de Madagascar, país situado na costa leste da África. Os malgaxes, seus habitantes, não se importam de ficar das 7 horas da noite às 2 da madrugada, na passagem do dia 24 para o 25 de dezembro participando da Missa do Galo. É longa, pois cada comunidade de base prepara um auto de Natal e o apresenta na missa. Tudo é feito com grande alegria, pois o malgaxe, formado da mistura de africanos e indonésios, é extremamente festivo e gosta de cantar. Quando surgiu a importação de brinquedos eletrônicos fabricados no sudeste asiático, as crianças começaram a receber presentes do Papai Noel, antes isso era inusitado. A população católica chega aos 20% e faz questão de comparecer à Missa do Galo trajando roupas novas. Mesmo os pobres julgam um ato de respeito. No dia seguinte, é comum ver as pessoas pelas ruas vendendo as peças que usaram uma única vez na noite de Natal. Uma cena triste, mas que guarda as sensações que afloram com maior intensidade nessa época do ano.
Dia dos Reis Magos em Veneza
Dia 6 de janeiro: Festa da Epifania – os Reis Magos visitam Jesus na manjedoura. Somente nesta data, às 11 horas, pontualmente, abrem-se duas portas nos altos da Torre do Relógio – na Praça de São Marcos. Surge um carrossel com grandes estátuas de madeira, muito coloridas, que, lentamente, vão passando. São as figuras dos Reis Magos que desfilam frente à imagem da Virgem Maria com o Menino. Verdadeira multidão aguarda o acontecimento. São minutos deslumbrantes. À tarde, há uma nova apresentação e, depois, somente no ano seguinte. Ao lado da Torre, na Praça, de hora em hora, sai uma procissão com pessoas vestidas como os Magos. O ritual é comandado por alguém vestido de anjo.
Missa Solene na Basílica de São Marcos
Após a apresentação dos Reis Magos, na Torre, acontece a Missa Solene de encerramento das festividades natalinas na bela Basílica de São Marcos – do século XI. A cerimônia é presidida pelo Bispo de Veneza, também chamado de Patriarca de Veneza. Um grande coral – mais de cem componentes – acompanhado ao som do maravilhoso órgão de tubos. Entoam canções natalinas. No início: “Adeste Fidelis” e no final “Noite Feliz”. Este é o mais lindo e comovente hino de Natal. Momentos de fé, de recolhimento e de agradecimento pela vida e de poder participar, presencialmente, dessa oportunidade maravilhosa. São momentos únicos de magia e de sacralidade no encerramento dos festejos natalinos. Momentos perfeitos na época mais maravilhosa do calendário.
A Befana na Festa da Epifania
Na Europa, as crianças costumam ganhar doces e presentes no dia 6 de janeiro. Na Itália, há a tradição da Befana. Esta é uma Bruxa Boa, que montada numa vassoura, distribui doces para as crianças comportadas e “carvão” para as que não foram. O “carvão” é um torrão de açúcar que o imita perfeitamente. É adquirido nos locais onde vendem doces. A Befana é uma figura nada bonita, mas não transmite medo. Cabelos pretos, longos, com chapéu em ponta. Recordo da minha infância, quando a minha avó materna falava e contava histórias sobre ela e nos dava alguns doces. Na época, eu não entendia bem o significado e ficava receosa de receber um pedaço de carvão – este era de verdade. Conta a lenda que os Reis Magos, quando chegaram a Belém, perderam-se e pediram ajuda a uma senhora, a Befana. “Doce ou carvão? ” A brincadeira que surpreende as crianças.
A literatura natalina
Existe uma literatura própria, rica, de histórias de Natal, onde os autores descrevem circunstâncias de como se celebrou o Natal – às vezes entre suspiros e lágrimas: um Natal no “front” de guerra, em 1914, quando de uma trincheira a outra, canções de Natal que fizeram os soldados, dos dois lados, esquecerem a política oficial e trocarem votos de Feliz Natal. Ou uma Festa de Natal onde os prisioneiros esqueceram a dura realidade de um campo de concentração e brindaram. Natal nos hospitais, nos quartéis, nos asilos, nas ruas...
Conclusão
A magia do Natal e seus festejos são explicados pela sua aceitação universal: o desejo de paz, de tranquilidade, de felicidade num mundo confuso e perturbado. A figura de Jesus Menino enternece, pois em Belém, veio ao mundo, não à frente de um exército, mas a de uma criança simples e necessitada de amor e proteção. Ficou clara a lição que deixou: a única estrada que conduz à felicidade é o amor, a compreensão, a colaboração e a união de irmãos. Que o ano de 2025 seja, realmente, quando reinará a paz.