Já há algum tempo tenho notado certa intolerância no cenário do futebol brasileiro. Acredito que, por conta do caráter social desse esporte, fica evidente a capacidade que tem em refletir a sociedade e, mais do que isso, serve como um potente alerta sobre como viemos conduzindo esse jogo.
Entre tantas situações, escolho aqui a mais recente e de maior proximidade com a região, não tão grave quanto atos de racismo e violência nos estádios, que infelizmente acontecem com frequência, mas que também retrata as falhas e injustiças de um sistema arbitrário.
Basta analisar os fatos para perceber que, se acontece com frequência é porque, até o momento, nenhuma providência efetiva foi tomada. Isso, novamente, além de enfraquecer o que costumamos classificar como “bom futebol”, espelha o ambiente extracampo.
Na quarta-feira (12), o Ypiranga enfrentou o Brasil de Pelotas, no Bento Freitas, em partida válida pela sétima rodada do Gauchão. A vitória do Canário por 2 a 1 ficou marcada pela atuação do então artilheiro da temporada, Emerson Galego, autor de todos os gols do YFC no campeonato.
Na partida, o atacante foi responsável por balançar as redes duas vezes, somando assim 6 gols no Campeonato Gaúcho. Acontece que, durante a comemoração do segundo gol, marcado aos 20´do 2T, a euforia deu lugar a interrogação. Galego foi advertido pelo árbitro da partida, Rafael Klein, com um cartão amarelo, mas por quê?
Em súmula divulgada pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) na quinta-feira (13), a justificava do cartão corresponde ao motivo 255 - atuar de maneira a mostrar desrespeito ao jogo, por conta da atitude de comemoração do gol.
A comemoração em questão se trata da reprodução do famoso gesto de Cristiano Ronaldo (em que o atleta aponta para si mesmo e, em seguida, para o chão) que, para o juiz da partida, quando praticada por Galego, viola as regras do regulamento. Embora não simpatize com o jogador português, me questiono o que há de irregular em celebrar conquistas.
Deixo de lado aqui o clubismo e afirmo que todos merecem comemorar vitórias, afinal, são exatamente esses os momentos que fazem tudo valer a pena, inclusive se tratando de futebol.
Destaco ainda que, enquanto entusiasta do esporte e futura jornalista, considero intrigante que tal decisão não tenha ganhado a devida visibilidade na imprensa gaúcha. Quando o Clube em questão não dispõe de recursos robustos para se manter, mas segue na briga por espaço, a imposição de penalidade por comemoração – em que não houve violação de direitos – se torna ainda mais injusta.
Por fim, me parece quase irracional, para não dizer estúpido, tratar injustiças como simples “choradeira”. Dito isso, seguimos.