Falar sobre política e da realidade econômica do país com amigos ou em casa está cada vez mais difícil. É difícil encontrar um meio termo. É quase sempre um problema, um tabu, uma discussão sem fim sem nenhum propósito a se alcançar. Tudo gira em torno da desqualificação. Parece que há uma necessidade premente em só se falar mal, buscar os aspectos negativos, destrutivos, nada ali presta ou beneficia o cidadão, é só sacanagem e no mais alto grau. Os extremos estão de volta, num grau excessivo, combatendo, ampliando trincheiras e adeptos.    

Este extremismo é visto em muitos ambientes, meio de convívio social, nas famílias, está sendo replicado sistematicamente, ininterruptamente, e cada vez mais refinado, elaborado, intenso, presente, numa sucessão de palavras sem oxigênio, sem pausa, sem reflexão, despejadas de balaio sobre a mesa.    

Após a discussão de palavras não de ideias ou projetos, imediatamente, surgem os rótulos. Se tocar em tal assunto econômico a marca é de esquerda, se abordar a política de outro jeito é considerado de direita, e a balbúrdia só se multiplica, em níveis estratosféricos, nas redes sociais.

E aí por questões ideológicas extremas, seja de direita ou esquerda, o diálogo está encerrado, a reflexão nunca será possível e, como consequência, a realidade deixa de existir e ser objeto de análise. Tudo que é real some num passe de mágica e só os devaneios passam a importar. A realidade simplesmente desaparece em meio ao irracionalismo e extremismo de toda natureza, sai de cena, vaporizou, sublimou, ela se escafedeu, não faz mais a mínima diferença nas conversas. E não importa o quão quente ou fria ela seja, a realidade foi cancelada.

O calor extremo dos últimos dias não tem origem, não existem transformações climáticas, todo este forno que aí está é só resultado de narrativas. No ano passado houve alagamentos, em todo o Estado, com destruição e mortes. Neste ano, o contrário, temperaturas elevadíssimas que estão literalmente torrando as pessoas, culturas agrícolas, secando rios, sangas, açudes, deixando rastros de destruição e inúmeros prejuízos econômicos para sociedade, tudo isso não representa nada e somente faz parte de narrativas.

A realidade está sendo fragmentada ao ponto de não ter mais correspondência com nada, em níveis alucinógenos, alarmantes, como o calor excessivo que cozinha o cérebro, mas não passa de narrativa. A realidade se foi, não tem hora pra voltar, e não há nada que se possa fazer.