"Papai, brinca comigo?" Como negar um pedido desses? A pergunta é simples, mas carrega uma grande responsabilidade. E, muitas vezes, a resposta é "não". O mais triste é que, frequentemente, dizemos esse "não" no automático, sem nem perceber. Mas eles sentem. E como sentem.
Vivemos imersos em compromissos: trabalho, contas, responsabilidades. Tudo isso é real, urgente, necessário. E os filhos também precisam aprender que o mundo exige, que há deveres.
Porém, não são só eles que têm algo a aprender. Na verdade, somos nós que precisamos compreender a maior das lições: existe outro mundo, bem dentro da nossa casa. Um mundo feito de olhinhos brilhando, de imaginação infinita, de tempo que parece não passar, de perguntas engraçadas, de mãos pequenas pedindo companhia. Um mundo que, se não enxergarmos agora, pode desaparecer diante dos nossos olhos.
Sim, precisamos trabalhar, cumprir compromissos, mas será que não conseguimos reservar 30 minutos do nosso dia para uma entrega real aos nossos filhos? Sem celular, sem TV, sem distrações. Meia hora que pode valer por uma vida inteira.
Porque tempo de qualidade não se mede no relógio, se mede na presença, no afeto, no olhar. Eles sentem. E você também vai sentir.
Pode parecer clichê, mas o tempo não volta. Daqui a pouco, quando você chamar seu filho para brincar, talvez ele não queira mais. Vai preferir os amigos, os amores, o mundo lá fora. E a distância que se cria agora pode se tornar permanente e, crescer cada vez mais.
Por isso, aproveite o hoje. Brinque. Esteja junto. Cuide. Converse. Leve e busque na escola, ajude com a lição, leia histórias, dê banho, abrace, diga que ama. Seja presença. Seja abrigo. Seja pai. Priorize sua relação com seu filho, nem que seja por um momento do dia.
Há uma frase que diz: “A infância é um chão que se pisa a vida inteira.” E é verdade. Pisamos todos os dias nas marcas deixadas por ela. Talvez por isso educar seja tão desafiador: enxergamos nos nossos filhos a criança que fomos.
Lembramos dos pedidos que fizemos e não foram ouvidos. Das vezes em que nossos pais, por diversos motivos, não puderam brincar conosco. E, sem perceber, repetimos padrões.
Mas, se podemos evitar que isso se repita, por que não tentar?
Muitas vezes meu filho me chama para brincar. E, se eu fosse responder no impulso, quase sempre diria não. A casa está uma bagunça, a louça acumulada, o trabalho me chamando.
Mas aí eu respiro e penso: o que é realmente urgente? O que mais importa?
A resposta é clara: meu filho.
Se preciso trabalhar, explico, divido o tempo. Mas, se o que me ocupa pode esperar, então vai esperar.
Porque a minha prioridade é ele. E ele não terá três anos para sempre. Quando se agarra ao meu pescoço na porta da escola, eu fico. Acolho. Porque sei que, em breve, ele talvez nem queira mais que eu o acompanhe até a sala.
E, quando esse dia chegar, quero ter a certeza de que aproveitei cada segundo.
No último domingo, ele me acordou com aquele convite mágico:
“Você pode brincar comigo, papai?” Eu nem tinha tomado café, mas fui. E fui tudo que ele quis: super-herói, rei, médico, piloto, Darth Vader preto e Darth Vader branco (Stormtrooper), Pició (C3PO) e até o Yoda. Inventamos histórias, rimos, corremos. Jogamos futigól (futebol), vimos o Coelho da Páscoa e fizemos atividades ao ar livre. À noite, a pedido dele, fomos ao Centro tomar nosso passe e agradecer pela vida.
Ao chegar em casa, havia muito por fazer. Mas o abraço antes de dormir e o “papai, eu te amo muito” disseram tudo. E é essa a marca que quero deixar: a minha presença com todo o amor do mundo na vida do meu filho.