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Opinião

Um mais um não é dois

Agora, enquanto a mentalidade for concentrar riqueza pública e privada, nas mãos de poucos, os juros sempre serão os maiores possíveis e não faltarão justificativas para apresentar à sociedade, porque quem define a narrativa sobre a economia é quem está ganhando rios de dinheiro, é claro, com o subdesenvolvimento de um país inteiro. Mas isso não importa, né.

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Ígor Dalla Rosa Müller
Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Jornal Bom Dia

É quase unânime ouvir os economistas dizerem que o problema do Brasil são os gastos públicos, que o país precisa parar de gastar, tem que diminuir estes gastos, senão a economia vai virar um caos. Mas o problema vem a seguir: quais são os gastos públicos que precisam ser cortados? O maior ou menor gasto. A lógica diria para reduzir o maior gasto público. Certo? Errado, porque não é assim que funciona no Brasil. Um mais um não é dois para a política econômica brasileira. 

E o agravante disso tudo é a falta de respeito com a população brasileira, que é quem efetivamente paga a conta, porque nunca se menciona o maior de todos os gastos públicos do orçamento federal brasileiro, há anos, o saco sem fundo, o buraco inventado pela política econômica para concentrar os recursos dos impostos: os juros pagos para a dívida pública.

O maior gasto público do Brasil abocanhou 42,96% do orçamento de 2024 e, mesmo assim, é considerado invisível para os economistas. Nada se compara a esta conta, nem a difamada, há décadas, Previdência, que representa 21,16% e significa comida na mesa do brasileiro, ao contrário dos juros que só concentram renda no sistema financeiro, não geram empregos e renda, não abrem novos negócios, não movimentam a economia. Aqui se explica bem a lógica do país. Um merece atenção e cuidados, os juros, outro, vai ter escárnio e indiferença, a Previdência, porque ela é a população.   

Há mais de 30 anos se faz a mesma coisa sem resultados. Aliás, beneficiando poucos, gerando prejuízos para muitos. A política econômica dos juros altos do Brasil está destruindo o país, empobrecendo as famílias, inibindo a capacidade de trabalho, tornando o país improdutivo, gerando desindustrialização, concentrando recursos públicos e privados, produzindo escassez para a maioria da população. 

Como bem explica a Auditoria Cidadã, a inflação brasileira não decorre de demanda aquecida, mas de preços que não caem com a alta de juros, como combustíveis, gás de cozinha, energia, tarifa bancárias, transporte, plano de saúde, alimentos, nenhum destes preços se reduz quando o Banco Central aumenta os juros.

Não interessa o partido, a cor da bandeira ou a posição política do governo, que está à frente do Brasil, direita, esquerda, centro, ou suas variantes, ninguém altera esta estrutura, ela é intocável. Os juros no Brasil sempre serão altos, enquanto o objetivo for continuar sendo subdesenvolvido, periférico, extremamente desigual, onde os brasileiros são descartáveis. Neste modelo, os juros altos sempre serão o remédio para inflação.  

Com os juros altos a dívida só se multiplica e exige, cada vez mais, recursos públicos e privados para bancá-la. Chega ser ridículo falar algo assim, mas é a realidade. E para pagar esta conta os recursos precisam sair de algum lugar. Mas isso tão óbvio. Deveria ser, pelo menos, mas não é.

Por que falar tanto deste assunto? Porque a ideia é ser bem pragmático, focar naquilo que importa pra economia, resumindo, o dinheiro, para onde vai e o que é feito com ele. Só se escuta que falta dinheiro no Brasil e o governo precisa parar de gastar, então, porque não começar por aquilo que gera o maior gasto? Os juros.  

Nada se assemelha a este sistema que se apropria das riquezas de um país inteiro, públicas e privadas, livremente, sem ser questionado, dragando tudo, vorazmente, e tudo dentro da legalidade, com motivação perfeita, acabar com a inflação, a grande vilã, que assombra a estabilidade econômica do país. E não importa o custo, isso está bem evidente, porque vidas, famílias, negócios, empresas são arruinados por este sistema há anos.

Quando o Brasil decidir se desenvolver econômica e socialmente, voltar a se industrializar, investir no desenvolvimento humano, educação, saúde, segurança, infraestrutura, a primeira medida será combater, drasticamente, esta política suicida de juros elevados. Agora, enquanto a mentalidade for concentrar riqueza pública e privada, nas mãos de poucos, os juros sempre serão os maiores possíveis e não faltarão justificativas para apresentar à sociedade, porque quem define a narrativa sobre a economia é quem está ganhando rios de dinheiro, é claro, com o subdesenvolvimento de um país inteiro. Mas isso não importa, né.

 

 

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