As chamadas “terras raras” são a nova corrida mundial, como na era do ouro. E, mais uma vez, o Brasil está no centro das atenções, pois temos a segunda maior reserva de terras raras do mundo, atrás apenas da China. Vejam bem: segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil possui cerca de 21 milhões de toneladas de terras raras. Eles já sabem o que nós ainda não sabíamos!
Como dito na matéria anterior, trata-se de uma riqueza estratégica, com potencial para impulsionar a transição energética e a indústria de alta tecnologia. Por isso, hoje está em meio a disputas geopolíticas cada vez mais acirradas.
O Ministério de Minas e Energia reconhece o desafio, mas vê uma chance histórica. Em nota ao G1, a pasta afirmou que “o Brasil tem uma janela de oportunidade para desenvolver uma robusta indústria de processamento de terras raras, aproveitando energia limpa e competitiva, estabilidade territorial e conhecimento acumulado”. Uallace Moreira, Secretário de Desenvolvimento Industrial do Ministério do Desenvolvimento, também aponta os obstáculos: “É melhor produzir o processado, claro. Mas há desafios tecnológicos, de escala de produção e de competitividade”.
Segundo Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), “a China está usando os minerais como ativo geopolítico para barganha. O Brasil precisa ter a mesma inteligência estratégica”. Enquanto isso, a China domina o refino dos minerais e os EUA pressionam por acesso a fontes alternativas, mirando o subsolo brasileiro.
O alerta mais recente veio na última semana, quando o encarregado de negócios da Embaixada Americana, Gabriel Escobar, reafirmou, em reunião com empresários, o interesse direto do governo Trump nos minerais críticos e estratégicos brasileiros, como as terras raras, o lítio, o nióbio e o cobre. O recado foi interpretado como mais uma peça no tabuleiro da tensão geopolítica, acirrada após o anúncio do tarifaço de 50% contra produtos brasileiros, que entra em vigor em 1º de agosto.
O Governo Federal e entidades do setor mineral têm articulado iniciativas para desenvolver tecnologia nacional, atrair investimentos e montar uma cadeia produtiva no país. Veja algumas delas:
1: Projeto MagBras, liderado pelo SENAI, para desenvolver uma cadeia nacional de produção de ímãs permanentes de neodímio-ferro-boro (NdFeB), com uso em carros elétricos e energia limpa; 2: Fundo de R$ 1 bilhão para financiar projetos de pesquisa mineral, com foco em empresas juniores; 3: Debêntures incentivadas, autorizadas por decreto de 2023, para projetos de minerais estratégicos; 4: Chamada pública de R$ 5 bilhões, lançada por BNDES, FINEP e MME, para apoiar a industrialização mineral e implantar plantas industriais no país; 5: Mapeamentos em andamento pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB), que incluem áreas como a Bacia do Parnaíba, no Piauí, e rejeitos de mineração com potencial para reaproveitamento.
A China dominando a extração dos minerais no Brasil
Segundo notícia publicada no site InvestNews em 20/10/25, os chineses investiram US$ 4,2 bilhões em projetos no Brasil somente no ano passado. Em relação a 2023, o salto foi de 113%. Estrategicamente, o governo chinês investe nos setores estruturais, como energia elétrica (34%), petróleo (25%), indústria automobilística (14%), infraestrutura - portos, ferrovias, rodovias e aeroportos (12%) - e mineração (13%).
Para quem não sabe, a RGE e outras concessionárias de energia no país são deles.
Recentemente, adquiriram a mina de Barro Alto (GO), da empresa Anglo American. O que está por trás desse negócio? O níquel. E, conjuntamente, a compra envolveu uma siderúrgica especializada em processar esse minério, a Codemin, em Niquelândia (GO). Com essa aquisição, se aprovada pelo Cade, passarão a deter 50% da produção brasileira de níquel. O material produzido é o ferroníquel, aço que não enferruja.
Os chineses detêm a fabricação de 75% das baterias de lítio do planeta. O níquel tem mil e uma utilidades, mas é essencial para a produção das baterias de lítio dos carros elétricos e dos celulares, por sua grande capacidade de armazenamento de energia.
Li um livro sobre a “Revolução Chinesa”, no qual o atual presidente Xi Jinping, engenheiro químico, revolucionou a educação de seu país. Os melhores alunos do ensino fundamental ingressavam nas melhores escolas e, ao estarem aptos a entrar na universidade, novamente eram selecionados os melhores, que eram enviados às melhores universidades dos EUA e da Europa. Tinham como missão chegar ao doutorado e ao pós-doutorado e, depois, retornar ao seu país para desenvolver novas tecnologias.
O presidente tinha como meta mudar radicalmente o panorama de seu país, resgatar uma grande dívida com seu povo, majoritariamente camponês, e tornar a China uma potência mundial tecnológica e bélica, estendendo seus tentáculos às riquezas naturais de muitos países, como o Brasil, tanto no continente americano quanto no africano.
O que eles têm é o que nos falta: estratégia de ação e de investimentos, livre de corrupção (caso descoberta, a pena é de morte). Pelo visto, continuaremos sendo uma colônia global.