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Opinião

O guarda-chuva verde e os pinhões

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Neusa Cidade Garcez
Por Neusa Cidade Garcez - Historiógrafa e Pesquisadora - URI - Membro da AEL
Foto Neusa Cidade Garcez

Garrão da Pátria, é a forma idiomática, para expressar, no contexto gaúcho, a parte mais distante em relação ao centro do país. Garrão da Pátria, geograficamente, é a região sul do Rio Grande do Sul. Ali ocorreram histórias interessantes que sempre amei pesquisar. Imensos descampados, o gado cimarron disperso após o fim das “vacarias” jesuíticas. Fronteiras com necessidade de vigilantes. O governo central para conseguir guardar seus limites, fez doações de imensas extensões de terras para militares, soldados comuns ou quem, sendo armado, consentissem em batalhar a favor do Brasil. Foi a origem do latifúndio, e de um povo honrado, rude, com linguajar peculiar e correto, mesmo mesclado com o espanhol e o nativo. Berço de fortes.

Com a chegada de imigrantes em outras regiões, ocorreu a colonização. As Colônias Velhas, rapidamente esgotadas em espaço, lançaram olhares cobiçosos para o norte do Alto Uruguai gaúcho.

A notícia de boas aguadas, terras férteis, encorajou centenas de pessoas que venceram os peraus e mil dificuldades para fundar uma nova “Camelot”, a Colônia Erechim. Imagino a encantadora região, que foi descrita por um antigo colono como “parecendo um enorme guarda-chuva verde”. Imagino o centenar de pinheiros e outras vegetações virgens do contato humano.

Na minha imaginação, a região deveria parecer como um mini paraíso, que fascinava, mas ao mesmo tempo amedrontava.

Derrotas e vitórias foram escritas sob o guarda-chuva verde. Nova terra para gente forte e construtora. Amo a araucária, hoje tão rara. Quando vejo aqui e ali um pinheiro, volto minha memória para a infância, época em que o Frigorífico Erechim, construía casas para seus operários. Minha nona Garcez residia em uma delas, a beira de um riacho, em uma enorme baixada. Estrada de chão até lá em baixo e rodeada de mato, assustador ao entardecer, para a menina que se atrasava para ir para casa, lá em cima, pois a nona sempre lhe acarinhava com enormes fatias de pão caseiro branquinho, queijo e bom café. Era gostosa a casa simples da nona Garcez!

O medo só era amainado quando após uma chuvarada, eu fazia uma busca frenética no outro lado da rua, na casa de Dona Loia onde o mato se resumia em adoráveis pinheiros, onde eu procurava e encontrava meus tesouros: Os belos e suculentos pinhões. Já em casa na chapa do fogão a lenha, os pinhões eram tornados nas delícias, que hoje são. Meu pai os martelava no “tapiel” da polenta. As cascas eram rompidas para o nosso deleite. Gordinho e sem bichinhos!

Saborosas lembranças! Nunca mais recolhi pinhões no chão. Os que se compram hoje nos mercados, muitas vezes já ficaram tempo longo nos freezers e inúmeros já estão estragados. Tenho a impressão que nem mesmo o sabor é igual. Os pinhões gordinhos e sem nenhum bichinho, já ficaram guardados na terra orvalhada e na lembrança saudosa de outrora.

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